"ExplosõesBase aérea usada pelo Kremlin na guerra sofreu explosões na terça-feira. Kiev diz que nove aeronaves foram destruídas e não assume autoria, mas autoridades e analistas militares apontam para iniciativa ucraniana.As Forças Armadas da Ucrânia afirmaram nesta quarta-feira (10/08) que nove aviões de guerra russos e a pista de decolagem de uma base aérea na Crimeia foram destruídos em uma série de explosões no dia anterior, em meio a especulações de que elas teriam sido resultado de um ataque ucraniano.

A base aérea Saki fica na costa oeste da Crimeia, a cerca de 300 quilômetros do batalhão militar ucraniano mais próximo. A península foi anexada em 2014 pela Rússia, e esse seria o primeiro grande ataque ucraniano à região desde então, marcando uma escalada do conflito.

A Crimeia é muito popular entre turistas russos como destino de férias de verão, e diversos foram surpreendidos pelas explosões e compartilharam em redes sociais vídeos de grandes nuvens de fumaça acima da base aérea.

Rússia diz que foi acidente; Ucrânia não assume autoria

A Rússia negou que qualquer aeronave tenha sido danificada ou que tenha ocorrido um ataque. A versão do Kremlin é que um acidente provocou a explosão de artefatos bélicos ali armazenados – uma explicação que não fez sentido para analistas militares, que acreditam ter havido um ataque com mísseis ucranianos.

A Ucrânia tampouco reivindicou a responsabilidade pelas explosões. Em entrevista coletiva, o conselheiro presidencial Mikhail Podoljak foi questionado se Kiev assumia a autoria e negou, ironizando a justificativa russa: "Claro que não. O que temos a ver com isso? Talvez seja apenas uma tentativa de compensar a má gestão dentro das Forças Armadas da Federação Russa."

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Outro conselheiro presidencial do país, Oleksiy Arestovych, porém, disse de forma enigmática que as explosões foram causadas ou por uma arma de longo alcance ucraniana ou por um ato de guerrilha de ucranianos na Crimeia.

Uma alta autoridade militar da Ucrânia com conhecimento sobre o incidente afirmou ao jornal New York Times, sob anonimato, que as forças ucranianas estão por trás do ataque à base aérea russa. "Essa era uma base aérea a partir da qual aviões regularmente decolavam para atacar nossas forças que operam no sul [da Ucrânia]". Ele não informou que tipo de arma foi usada no ataque, mas disse que se tratava de "um dispositivo de fabricação exclusiva ucraniana".

Possíveis armas

Oleh Zhdanov, analista militar sobre a Ucrânia, afirmou à agência de notícias AP que Kiev, oficialmente, mantém o silêncio sobre o tema, "mas extraoficialmente os militares reconhecem que foi um ataque ucraniano".

Zhdanov disse que o ataque pode ter sido executado com mísseis antinavio ucranianos do tipo Netuno – foram esses mísseis, segundo Kiev, que atingiram o navio mais importante da Marinha russa no Mar Negro, o cruzador de mísseis Moskva, que afundou após o ataque em abril.

Outra opção seriam os mísseis antinavio do tipo Arpão, fornecidos por países do Ocidente. Os sistemas de lançamento de mísseis Himars, fornecidos pelos Estados Unidos à Ucrânia, poderiam em tese atingir alvos a até 300 quilômetros, mas Washington afirma que tem fornecido a Kiev apenas mísseis de menor alcance, de até 92 quilômetros, para evitar que a Ucrânia ataque alvos em território russo.

O Instituto para o Estudo da Guerra, sediado em Washington, disse que não podia determinar independentemente o que provocou as explosões, mas observou que explosões simultâneas em dois lugares da base provavelmente descartam a hipótese de incêndio acidental, mas não uma sabotagem ou um ataque com mísseis. E acrescentou: "O Kremlin tem pouco incentivo para acusar a Ucrânia de realizar ataques que causaram os danos, já que tais ataques demonstrariam a ineficácia dos sistemas de defesa aérea russos."

Importância da península

A Crimeia tem enorme significado estratégico e simbólico para ambos os lados da guerra. Moscou exige que Kiev reconheça a península como território russo como uma das condições para encerrar os combates, enquanto o governo ucraniano tem como objetivo expulsar os russos da região e de outros territórios ocupados.

Na noite de terça-feira, após o incidente na base aérea russa, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou: "Esta guerra russa contra a Ucrânia e contra toda a Europa livre começou com a Crimeia e deve terminar com a Crimeia, com a sua libertação. Hoje é impossível dizer quando isso ocorrerá. Mas estamos constantemente acrescentando os componentes necessários para a fórmula da liberação da Crimeia."

Turistas assustados


As explosões na base aérea, que mataram uma pessoa e feriram 14, fizeram com que muitos turistas fugissem em pânico enquanto plumas de fumaça se elevavam sobre o litoral. Alguns edifícios ficaram com janelas quebradas.

Uma turista, Natalia Lipovaya, disse que "perdeu o chão" depois das fortes explosões. "Eu estava tão assustada", disse. Sergey Milochinsky, morador local, recordou ter ouvido um barulho e visto uma nuvem com forma de cogumelo de sua janela. "Tudo começou a cair, a desabar", disse.

O líder regional da Crimeia, Sergei Aksyonov, disse que cerca de 250 residentes foram transferidos para moradias temporárias depois que dezenas de prédios de apartamentos foram danificados. Mas as autoridades russas procuraram minimizar as explosões, dizendo que os hotéis e praias não foram afetados.

bl/ek (AP, ots)


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