Entender a negociação de ações no mercado à vista já exige bastante paciência. Mas há produtos ainda mais complexos, como os derivativos, que podem assustar quem quer conhecer o mercado financeiro. Mesmo assim, um número cada vez maior de pessoas acredita que pode lucrar com esses ativos. Segundo dados informados pela B3, a Bolsa paulista, 581 investidores, em média, negociaram minicontratos de dólar ao longo de 2014. Quatro anos depois, esse número subiu para 11.199. Só em dezembro do ano passado, último dado fornecido, o número foi de 14.211, mais de 20 vezes o total de 2014. Os números se referem apenas a pessoas físicas – ou seja, não entram na conta os investidores institucionais.

Conhecido como “mini de dólar”, esse derivativo define um comprador e um vendedor da moeda americana em uma data futura e a um preço determinado. A negociação pode ser feita por meio da própria plataforma das corretoras. Uma das indicações do produto é para quem deseja se proteger das oscilações cambiais.

Mas é com o objetivo de lucrar com a volatilidade do dólar que a maior parte das pessoas físicas opera esses minicontratos, dizem especialistas. Para isso, o contrato não é levado até o fim. A ideia desses investidores de perfil agressivo é identificar oportunidades de compra e venda, saindo da operação em um mesmo dia, prática conhecida como “daytrade”. Um dos motivos que contribuíram para o forte aumento de investidores nesse mercado, conta o economista-chefe da Guide, Victor Candido, é a explosão de informações sobre esse tipo operação, sobretudo no YouTube. “Hoje, conseguir informação é muito simples. Mas é extremamente arriscado e a maioria não entende muito bem como funciona o câmbio”, afirma.

O “mini de dólar” é atrativo para esses investidores pela combinação de alavancagem e volatilidade, o que permite grandes ganhos com pequenos valores investidos, diz Rodrigo Puga, executivo-chefe da Modalmais.

Segundo ele, a corretora vem registrando um aumento de 10% ao mês em número de clientes no ramo, a maior parte sem muita experiência. “Sempre falamos que não é fácil ganhar dinheiro. É preciso ter muito controle de risco, porque a volatilidade pode ser para o bem ou para o mal”, alerta.

Em algumas corretoras, os investidores aplicam menos de R$ 100 para negociar contratos de cerca de R$ 4 mil. Se não houver gatilho para encerrar posições, eles podem ficar com um saldo devedor dezenas de vezes maior do que o investimento feito.

Hoje um investidor em tempo integral, Jefferson Silva, de 36 anos, lembra de perder R$ 1,5 mil em um único dia logo quando começou nesse nicho, enquanto ainda trabalhava com TI. “Tentava me esconder em alguma sala de reunião para operar, mas às vezes dava tudo errado”, diz ele, conhecido no mercado como ‘Laatus’, nome do curso que oferece sobre mini de dólar. “É uma situação complicada, porque você acaba não dando a atenção que o mercado exige. Muita gente acaba se machucando muito.”

Outro fator também apontado pelos especialistas para a elevação na procura por minicontratos é a queda dos custos de corretagem. Para complementar a renda depois de um acidente de carro, o administrador André Mazoni, de 42 anos, viu um caminho mais barato no minicontrato, em relação às ações. “Achava que só poderia operar se fosse rico. As operações de mini não precisam de um capital muito grande.”

Cuidados

Mesmo com a alta, o número de operadores de minicontratos ainda é pequeno em relação a outras opções, como fundos, ressalta William Eid, do Centro de Estudos de Finanças da FGV. Para o economista, a especulação contribui para a liquidez ao mercado, mas a recomendação é entrar apenas como estratégia de proteção cambial. “É um jogo de soma zero. Não pode haver ilusão: se alguém ganhou, outro perdeu”, destaca. Eid diz que para operar no ramo é preciso muito estudo, o que requer cuidado com as fontes de informação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.