A caça ilegal está aumentando em toda a África. A Covid-19 e as restrições aos turistas esvaziaram as áreas protegidas, criando uma zona de sombra para a ação dos caçadores clandestinos, além de ter reduzido a renda de moradores já pobres, que encontram na carne dos animais o alimento que precisam. Especialistas na fauna local avaliam que o avanço da pandemia ameaça desfazer os progressos realizados pelos governos e empresas que vinham ganhando eficiência na repressão da caça ilegal, numa tentativa de salvar espécies como o rinoceronte branco do Quênia, os elefantes do Zimbabue ou os leões da Zâmbia. Parques nacionais estão sofrendo com a falta de receita e relaxando com a fiscalização.

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A queda de reservas de viagens, estimada em 75%, desmobilizou recursos de proteção em parques privados e públicos de vários países. Em todo o continente, o turismo movimenta US$ 29 bilhões e emprega 3,6 milhões de pessoas, segundo a revista The Economist. Há um grande número de desempregados e um declínio da renda da população. No Parque Nacional Kafue, em Zâmbia, os guardas florestais verificaram, por exemplo, que o número de armadilhas para impalas e pequenos felinos quase triplicou entre 2019 e 2020. No ano passado, dois leões foram mortos numa área em que não havia acontecido nenhum caso fatal no ano inteiror.

Em alguns países, a caça furtiva está sendo estimulada pela fome da população. Botsuana tem a maior colônia de elefantes da África Subsaariana, cerca de 130 mil. Eles circulam pela área de conservação transfronteiriça Kavango Zambeze, que abrange também partes dos territórios de Angola, Namíbia, Zâmbia, Zimbábue e Moçambique. Na região do Zambeze, as doze últimas carcaças de elefantes mortos estavam com suas presas intactas e os vestígios indicavam que a carne havia sido retirada por seres humanos. Em outras frentes, alguns governos, numa tentativa desesperada de reavivar o turismo, tratam de facilitar a concessão de licenças de caça. Em Botsuana foram emitidas 100 licenças adicionais para atirar em elefantes em 2021, que se somam às 187 emitidas na temporada passada, interrompida pela pandemia.

O recrudescimento da caça irregular fez com que a organização SavetheRhino realizasse uma campanha no final do ano passado para retirar o chifres de alguns rinocerontes e evitar que continuem sendo caçados impiedosamente. Um quilo de chifre custa entre US$ 60 mil e US$ 80 mil no mercado internacional, ativado principalmente pela demanda asiática. A África do Sul tem o maior grupo de rinocerontes do mundo, cerca de 20 mil, e também o melhor trabalho de proteção e conservação do continente. Mesmo assim está sofrendo para impedir a caça sorrateira na pandemia.