Cremação obrigatória de mortos gera protestos no interior da China

Cremação obrigatória de mortos gera protestos no interior da China

"CemitérioAutoridades locais de província rural no sudoeste da China baniram enterros por falta de espaço. Medida provocou protestos de membros de minoria étnica que encara cremação como desrespeitosa com os mortos.Protestos eclodiram em um vilarejo em uma província rural do sudoeste da China contra autoridades que impuseram uma ordem de cremação obrigatória dos mortos. Na prática, a medida proíbe os enterros da população miao, uma das principais minorias étnicas da província de Guizhou, que vive em grande parte em zonas rurais.

Os enterros são considerados uma prática central da cultura do povo miao e outros grupos no país. Nestes casos, a cremação pode ser interpretada como um gesto de desrespeito à pessoa falecida, uma vez que a destruição do corpo representaria a sua desconexão da família e da ancestralidade.

Segundo o jornal britânico The Guardian, moradores de Guizhou, província que fica a 2.000 quilômetros de Pequim, estariam sendo pressionados por autoridades locais para cremar os parentes mortos, inclusive por meio de ameaças.

Nos últimos dias, contas em redes sociais que divulgam atividade dissidente na China publicaram vídeos que mostram moradores nas ruas gritando frases contra as autoridades e, num caso, até mesmo cercando um carro de polícia. Os vídeos dos protestos não puderam ser verificados de forma independente.

Pressão demográfica

Nos últimos anos, o regime chinês vem atuando para mudar as percepções da população sobre os enterros e favorecer as cremações.

Por causa do rápido crescimento populacional, a oferta de terras para túmulos se tornou escassa, fazendo com que autoridades defendessem alternativas rotuladas de "mais sustentáveis" e que tomem menos espaço, tal como o depósito de restos mortais no mar ou embaixo de árvores.

Em 2015, a rede BBC reportou que o governo chegou a organizar uma competição entre cremadores. O vencedor teria sido eleito pelas suas habilidades técnicas para exercer um cargo pouco apreciado por muitos chineses.

Protestos em crescimento

Protestos em massa são raros na China continental, mas certos grupos, incluindo a população rural têm mostrando mais propensão a desafiar o governo em demandas pontuais. O China Dissent Monitor (CDM), ferramenta da organização norte-americana Freedom House que mapeia protestos ao redor do país, registrou 1,392 protestos na cHINA no terceiro trimestre deste ano, um aumento de 45% em relação ao mesmo período de 2024.

Destes protestos, 15% foram liderados por moradores de zonas rurais, contra 38% por trabalhadores e 29% de proprietários imobiliários.

As escolas também têm se tornado palco mais frequente, segundo o CDM. Em agosto, um caso de bullying levou a uma onda de protestos na província de Sichuan.

Outros casos foram motivados pela insatisfação de pais e professores em relação às crescentes dificuldades financeiras enfrentadas pelas escolas, como resultado da recessão econômica na China.

ht (ots)