Após passar duas madrugadas na Rua Mauá, em trecho bem ao lado da Estação da Luz, os integrantes da Cracolândia foram impedidos de voltar ao local na noite desta quinta-feira, 9, por moradores da região. Como mostrou o Estadão, a presença de dependentes químicos na via tem levado insegurança para quem reside ou trabalha por lá. Cerca de 121,6 mil pessoas passam diariamente pela estação em dias úteis, segundo a CPTM.

Os manifestantes montaram um cordão nesta quinta para impedir os dependentes químicos de entrar na rua. O protesto reuniu dezenas de moradores e teve participação de pessoas ligadas ao Movimento de Moradia na Luta por Justiça (MMLJ), segundo comerciantes ouvidos pela reportagem. Muitos levaram cartazes contestando a aproximação do fluxo, nome dado à aglomeração de usuários de drogas.

Uma das pautas centrais durante a manifestação foi que o fluxo não pode permanecer em um local carregado de comércios antigos e prédios residenciais, muitos deles com crianças. Um morador, como mostrou o Estadão, chegou até a largar a faculdade depois que o fluxo migrou para ruas mais próximas da Estação da Luz. Outros tomam remédios para conseguir dormir.

O fluxo se deslocou pela primeira vez para a Rua Mauá na última terça-feira, 7, em noite marcada por conflitos com a Guarda Civil Metropolitana (GCM) e com a Polícia Militar – na ocasião, um agente chegou a ser atingido com uma pedrada no braço, mas foi liberado após atendimento médico. Na noite seguinte, de quarta-feira, 8, a Cracolândia também retornou ao endereço.

Com o protesto desta quinta, os usuários de drogas foram impedidos de ir para a Rua Mauá e voltaram para a Rua dos Protestantes durante a noite, onde eles também já têm passado o dia ao longo dos últimos meses. O endereço, apesar de não ficar rente à Estação da Luz, está a apenas uma quadra do local. A presença do fluxo por ali também tem sido motivo de reclamação por moradores.

“Ontem (quinta-feira, 9) o bicho pegou aqui. Fui embora muito tarde por conta do protesto”, disse um comerciante que trabalha na região. Segundo pessoas que estavam por lá no momento, houve correria na região. Nesta sexta-feira, 10, ainda não se sabe qual vai ser a movimentação da Cracolândia. “Ouvi falar que se eles forem em direção à Rua Mauá, eles (moradores) vão tentar impedir de novo”, afirmou outro lojista.

Nos últimos meses, o fluxo da Cracolândia estava passando a madrugada na Rua dos Gusmões, quase no cruzamento com a Avenida Rio Branco. A presença por ali, no entanto, foi marcada por episódios de violência, como saque a comércios e o atropelamento de 16 usuários por um motorista. Com isso, comerciantes da Rua Santa Ifigênia também se manifestaram pela retirada do fluxo dali.

De janeiro a outubro deste ano, a Cracolândia ocupou ao menos 11 endereços, segundo levantamento da Prefeitura de São Paulo. A maior parte deles fica no bairro Santa Ifigênia, porém, recentemente o fluxo tem se deslocado para ruas mais próximas da Luz. Como medida de segurança, a CPTM fechou as portas para ingressar na estação por meio da Rua Mauá.

Em nota enviada nesta quinta à reportagem, a CPTM informou que “mantém à disposição dos passageiros o acesso à estação pelo Parque da Luz e pelo Boulevard João Carlos Martins (que liga a estação à Sala São Paulo)”. “Os funcionários da estação estão preparados para orientar os passageiros quanto a estes acessos”, acrescentou.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP), também por meio de nota, afirmou que foram realizadas nesta quinta “ações de apoio à operação de fiscalização e de fechamento de pensões irregulares em áreas degradadas e no entorno das cenas de uso”.

“Além da realização de mais uma fase da operação A.C. 35, que culminou na prisão de 12 criminosos em flagrante delito por tráfico de drogas e receptação, captura de 3 criminosos procurados, grande apreensão de drogas, além da identificação imediata de 28 criminosos no fluxo em descumprimento de condições judiciais impostas em processos criminais”, acrescentou.

A secretaria disse ainda ter intensificado as ações preventivas e ostensivas na região desde o começo do ano. “Desde janeiro, mais de 2.500 criminosos foram presos nesta região (cerca de 20% a mais do que o mesmo período de 2022) e, desde abril, têm sido identificadas, mês a mês, reduções de roubos e furtos na região.”