Após mais uma noite de correria no centro de São Paulo, o fluxo da Cracolândia, nome dado à aglomeração de usuários de drogas em cenas de uso, migrou na noite desta terça-feira, 8, para mais próximo da Estação da Luz, uma das mais movimentadas da capital paulista. Segundo comerciantes, os dependentes químicos foram dispersados da Rua dos Gusmões, onde estavam passando a noite nos últimos meses.
Durante a ação, comandada pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) em parceria com a Polícia Militar, os usuários de drogas arremessaram pedras nos agentes envolvidos e um PM foi atingido no braço, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Ele foi levado para um hospital e foi liberado após receber medicação. A pasta afirmou que algumas ruas da região foram interditadas pelo fluxo e que houve queima de lixo durante a ação. Não houve registro de detidos.
“Os usuários atearam fogo em lixo e interditaram a Avenida Duque de Caxias e as ruas Guaianases e General Osório. Uma equipe do Corpo de Bombeiros compareceu ao local e desobstruiu a via”, afirmou a Secretaria da Segurança Pública. “Houve a intervenção com uso de munição de menor potencial ofensivo”, acrescentou.
A pasta disse ainda que as polícias Civil e Militar, em conjunto com a Guarda Civil Metropolitana, continuam realizando ações para requalificar as vias da região, proteger a população e prender traficantes e criminosos visando coibir a criminalidade na região central.
Segundo a secretaria, a ação da GCM teve o objetivo de “requalificar a Rua dos Gusmões e adjacências”. A via fica próximo da Rua Santa Ifigênia, uma das mais carregadas de comércio na região e que tem protagonizado cenas de violência.
Na noite da última quarta-feira, 1º, dependentes químicos saquearam uma loja de eletrônicos na Rua Santa Ifigênia. Vídeos do episódio mostram dezenas de pessoas arrombando a porta do local e cercando a entrada, enquanto tiram os produtos de lá. Foi a segunda vez que o estabelecimento foi alvo.
“Chegamos aqui e estavam saqueando tudo. Tinha um grupo tirando as mercadorias da loja e outro protegendo eles”, disse na ocasião Ângela Aparecida de Oliveira, de 44 anos. Nascida na Bahia, ela se mudou para São Paulo em 2013, ano em que abriu a loja. “Agora o meu plano é pedir ajuda da minha família para ir embora e tentar me levantar de alguma forma.”
Como mostrou o Estadão há algumas semanas, ao menos 11 endereços já foram ocupados pela Cracolândia no ano, segundo mapeamento da Prefeitura. Havia pelo menos dois meses, a Cracolândia estava passando o dia na Rua dos Protestantes, entre Santa Ifigênia e Luz, em uma espécie de “horário comercial”. Recentemente, um vigilante foi morto por lá em tentativa de assalto.
De noite, os usuários voltavam para a Rua dos Gusmões, no cruzamento com a Avenida Rio Branco. A rotina se estabeleceu após uma manifestação organizada no começo de agosto pela União Santa Ifigênia (USI), entidade que representa comerciantes e proprietários de imóveis da região, para cobrar medidas da Prefeitura e do governo do Estado.
Uma demanda central dos comerciantes é afastar o fluxo o quanto antes das ruas que possuem mais estabelecimentos, como justamente a Santa Ifigênia. Agora, com a nova movimentação, usuários não sabem qual rotina vai se manter. “A cada dia que passa está pior, o Santa Ifigênia está acabando”, disse a lojista Edna Pereira, de 53 anos.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de São Paulo para obter mais detalhes sobre a ação da GCM, mas ainda não teve retorno.