SÃO PAULO, 25 JUN (ANSA) – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 ouve nesta sexta-feira (25) o deputado Luís Miranda (DEM/DF) e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda, após ambos denunciarem que havia “irregularidades” no contrato de compra da vacina indiana Covaxin.   

Durante seu depoimento, Luís Ricardo relatou que avisou o presidente Jair Bolsonaro que três superiores do Ministério da Saúde estavam o pressionando para agilizar os trâmites de importação de vacina anti-Covid.   

Entre os nomes citados estão: Roberto Ferreira Dias, diretor de Logística do Ministério da Saúde; tenente-coronel Alex Lial Marinho, ex-coordenador-geral de Logística de Insumos Estratégicos para Saúde e coronel Marcelo Bento Pires, ex-diretor de Programa do Ministério da Saúde.   

A denúncia dos irmãos é de que a compra do imunizante indiano envolvia antecipação de pagamento da vacina para uma empresa que não era a contratada, doses a menos e com prazo de validade curto, além de superfaturamento.   

Supostamente pressionado, o funcionário teria se recusado a agir dessa maneira e alegou que sua equipe identificou algumas falhas na documentação e inconsistências no acordo assinado com o laboratório indiano Bharat Biotech e a sua intermediária no Brasil, a Precisa Medicamentos.   

O deputado Luís Miranda, por sua vez, mostrou à CPI prints de uma conversa com seu irmão, que relata um diálogo com um colega de trabalho, segundo o qual havia pedido de propina de uma pessoa que vendia vacinas. A troca de mensagens ocorreu em 20 de março deste ano.   

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“Aquele rapaz que me procurou dizendo que tem vacina. Disse que não assinaram porque os caras cobraram dele propinas para assinar o contrato. Vou perguntar se ele tem provas”, disse o servidor público.   

Na sequência, Luís Ricardo relatou ter recebido “mais uma ligação” – que teria partido do coordenador dele – pedindo para acelerar o trâmite de importação da vacina. O irmão, então, recomendou que a Polícia Federal fosse avisada.   

Ainda durante a sessão, o deputado revelou mensagens de áudio do irmão, no qual são citadas as falhas na última nota fiscal do contrato fechado para a compra da vacina Covaxin. A mensagem, inclusive, foi compartilhada com o ajudante de ordens de Bolsonaro, Diniz Coelho, de acordo com o parlamentar.   

Nas gravações, ele também revela sua estranheza pela “pressão” e “cobranças” que Luís Ricardo estaria recebendo na negociação.   

“Olha aí, o diretor cobrando meu irmão a essa hora da noite sobre a LI [Licença de Importação] da outra vacina, da vacina que eu fui despachar com ele. Mostra pro presidente isso daí, cara, manda pra ele. A essa hora…Cobrando uma LI que não tem o que fazer, tão desesperados que eles tão por essa outra. Todas as demais, inclusive a que está chegando amanhã, ninguém está preocupado, é só nesse contrato específico, que a gente explicou pro PR”, diz Luis Miranda na gravação divulgada.   

A Covaxin foi a vacina mais cara negociada pelo governo federal até agora: R$ 80,70 a unidade. O valor é quatro vezes maior que, por exemplo, a vacina da Fiocruz, a AstraZeneca. Além disso, o contrato é o único que teve um intermediário sem ligação com a indústria de vacinas: a empresa Precisa Medicamentos.   

Em uma das mensagens, Luís Ricardo também lista, por exemplo, o quantitativo de doses (que seria inferior ao acordado), o pagamento adiantado por todo o volume negociado e o fato de a empresa fabricante não estar no contrato.   

Por sua vez, Luís Miranda revelou que falou sobre as suspeitas com o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, durante uma viagem. Na ocasião, o general teria informado que deixaria o cargo em breve.   

O deputado explicou ainda que o irmão entregou dois ‘dossiês’ com suspeitas. Os documentos teriam sido entregues, segundo ele, ao ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni.   

Encontro Bolsonaro – O deputado federal contou as supostas reações do presidente Jair Bolsonaro depois de tomar conhecimento das suspeitas da suposta pressão dentro do Ministério da Saúde para agilizar a importação da Covaxin.   

De acordo com Luís Mirando, Bolsonaro teria reconhecido a gravidade dos fatos e afirmou que passaria o tema para a Polícia Federal (PF) abrir uma investigação. “Ele [Bolsonaro] falou: Vou acionar o DG [diretor-geral] da PF, porque, de fato, isso é muito grave o que está ocorrendo”, relatou.   


O contato teria ocorrido quase um mês depois da assinatura do contrato de aquisição de 20 milhões de doses do imunizante, ao custo final de R$ 1,6 bilhão.   

Após um bate-boca entre os senadores paralisar a sessão por cerca de 10 minutos, os depoimentos foram retomados. (ANSA)


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