Os senadores da CPI da Covid se preparam para iniciar uma nova fase das investigações que apuram ações e omissões do governo Bolsonaro e que levaram o País à trágica marca de mais de 510 mil mortes pelo coronavírus. Pela primeira vez, o comando da CPI admite a possibilidade de incluir o nome do presidente no rol dos investigados, sobretudo após o escândalo da compra das vacinas da Covaxin. O primeiro passo para o início dessa nova etapa foi anunciado pelo relator da comissão, senador Renan Calheiros, ao revelar a lista de 14 pessoas que deixaram a condição de testemunhas para a de investigadas (leia quadro na página 29 com o nome dos seis principais envolvidos na investigação). A relação é composta por integrantes e ex-integrantes do governo, bem próximas ao presidente, como é o caso de médicos e empresários suspeitos de integrarem o chamado gabinete paralelo, que, segundo a CPI, orientava o mandatário com base em medidas contrárias à ciência.

GOVERNO PARALELO Osmar Terra foi conselheiro de Bolsonaro: imunidade de rebanho (Crédito:Jefferson Rudy)

O primeiro indício de que o presidente entrará no rol dos investigados foi dado na segunda-feira, 21, pelo senador Randolfe Rodrigues quando ele estava na fila de vacinação em Macapá, oportunidade em que bateu-boca com um apoiador de Bolsonaro. O momento foi registrado em vídeo e viralizou na internet. Na gravação, é possível ver um militante bolsonarista declarando que o capitão não iria para a cadeia porque “Deus está com ele”. Randolfe rebateu o detrator chamando o mandatário de “assassino”, atribuindo-lhe a responsabilidade pelas mortes causadas pela Covid no Brasil. “Bolsonaro matou meio milhão de brasileiros. É um assassino. Jair Bolsonaro é um assassino”, reafirmou o vice-presidente da CPI.

Antes de concretizar a inclusão de Bolsonaro na lista dos investigados, porém, a comissão procura saber se há possibilidade legal para convocar o ex-capitão a prestar depoimento no Senado, mesmo que seja por escrito. Independentemente disso, a cúpula da CPI já está convencida de que possui elementos suficientes para responsabilizar o mandatário pelo caos sanitário no País. Entre os 14 investigados, estão nomes de pessoas muito ligadas ao presidente, como o ministro Marcelo Queiroga e os ex-ministros Eduardo Pazuello e Ernesto Araújo. Na prática, isso indica que o relator do colegiado, Renan Calheiros, já possui indícios da ocorrência de crimes cometidos por essas pessoas que recebiam ordens diretas do presidente. A partir de agora, os senadores poderão pedir quebras de sigilos bancário, fiscal e telefônico dos investigados e também determinar buscas e apreensões de aparelhos telefônicos, computadores e outros objetos nos endereços ligados a essas autoridades. A expectativa é de que isso facilite a obtenção de provas que contribuam para a elaboração do relatório final a cargo de Calheiros, com o indiciamento dos principais envolvidos nos crimes apurados pela CPI. O documento será enviado posteriormente ao Ministério Público Federal (MPF), que ficará responsável por apresentar ou não denúncia à Justiça.

As investigações da CPI, no entanto, avançam a passos largos na direção do Palácio do Planalto. Alguns pontos já são dados como certos pelos senadores. Um deles é a existência do gabinete paralelo que orientou Bolsonaro a tomar medidas equivocadas e até criminosas no enfrentamento da pandemia, como o atraso na compra de vacinas, recomendação inadequada da cloroquina e descaso no abastecimento de oxigênio em Manaus. Apontado como um dos líderes desse grupo, o deputado federal Osmar Terra foi ouvido na CPI nesta semana, em um depoimento que, segundo avaliação de integrantes da comissão, não ajudou a avançar tanto assim nos trabalhos, mas que serviu para comprovar a existência do chamado “gabinete das trevas”. Como disse uma fonte ligada à CPI: a chapa está esquentando para o presidente.