O governo realizou na tarde desta quarta-feira um evento em que Jair Bolsonaro sancionou duas medidas provisórias facilitando a compra de vacinas pelo poder público e também pela iniciativa privada. Enquanto a cerimônia acontecia, Flávio Bolsonaro pediu ajuda para difundir nas redes sociais uma foto de seu pai com a frase “Nossa arma é a vacina”.

Diante disso, a única reação possível é: CPI da Pandemia já.

Pouco depois de terminada a festa, Pazuello reduziu pela quinta vez as previsões de imunização em março. Seis dias atrás, 38 milhões de vacinas seriam distribuídas no Brasil. O número foi caindo e hoje o antiministro falou em algo entre 22 e 25 milhões de doses. Isso que é confiança. Isso que é precisão.

A cerimônia não foi mais do que um teatro. Bolsonaro estava inclusive usando máscara, como nas antigas tragédias gregas. Certamente não foi para dar exemplo. Ele voltou a falar mal das iniciativas de distanciamento social e não deixou de mencionar a existência de “médicos que afirmam que existem tratamentos opcionais” – ou seja, os charlatães da cloroquina.

É preciso pressionar Cínico e Sonso, dupla também conhecida pelos nomes de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, ou pelos cargos de presidente da Câmara e do Senado, para que saiam da inércia.

Eles continuam fingindo que teatrinhos e ações paliativas como essas de hoje à tarde são suficientes. Continuam fingindo que em meio ao crescimento exponencial das mortes por causa da pandemia, não há motivo para expor o governo de Jair Bolsonaro a um julgamento político mais duro.

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Sonso, inclusive, estava hoje todo empertigado ao lado do presidente, passando a impressão de que cumpria um importante papel institucional.

Vamos repetir: nada mudou hoje à tarde. Bolsonaro não faz o que deve (coordenar políticas nacionais) e insiste no que não deveria. Lutou contra as vacinas e continua lutando contra as máscaras e o isolamento social.

Por muito menos, os paraguaios foram às ruas nos últimos dias. Derrubaram o ministro da Saúde e outros assessores do presidente Mario Benítez. Lá só houve incompetência. Aqui, incompetência e má fé.

Foi também repugnante ver nesta semana o comportamento da comitiva brasileira enviada a Israel para conhecer o tal spray nasal contra a Covid, em fase inicial de desenvolvimento. Lá, o grupo capitaneado pelo antichanceler Ernesto Araújo e pelo deputado Eduardo Bolsonaro se curvou docilmente às regras sobre uso de máscara. Aqui, ignoram soberbamente não só as recomendações sanitárias, mas a própria legislação de Brasília e de outras cidades por onde passam, quando ela exige a proteção facial.

Esse é o governo de Bolsonaro. Ele se julga acima do bom senso e acima das leis. Mesmo assim, os presidentes da Câmara e do Senado querem tratar a grave situação brasileira com cloroquina política. Fingem não ver que, para conter o coronavírus, é preciso enquadrar Bolsonaro.

Até agora, somente o Judiciário – ou seja, o STF – fez contraponto aos desvarios do Executivo. Cínico e Sonso não querem, mas está na hora de o outro poder, o Congresso, parar de tergiversar. CPI da Pandemia já.


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