CPI da Pandemia já

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Bolsonaro ao lado do deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente Câmara Foto: Reprodução/ Facebook

Depois de se reunir com Jair Bolsonaro, na noite de domingo, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, presidentes da Câmara e do Senado, repetiram ensaiadinhos que não é hora de instaurar uma CPI para investigar o trabalho do governo durante a pandemia.

Lira é um cínico. Segundo ele, procurar culpados neste momento não traz nenhum benefício: o que interessa é liberar o pagamento de novas parcelas do auxílio emergencial e votar reformas estruturais.

Pacheco é um sonso. Ele afirma que instituir uma comissão de inquérito seria “contraproducente”. As razões são as mesmas do colega: pagar auxílio, aprovar reformas. Blá-blá-blá.

Em primeiro lugar, não está escrito em lugar nenhum que uma CPI deve paralisar as outras ações do Congresso. Já houve anos em que muita coisa importante foi votada, mesmo com CPIs em operação. Presidentes hábeis nas duas Casas são capazes de manter a roda girando.

Em segundo lugar, uma CPI não serve apenas para procurar culpados – embora isso faça parte da encomenda. Ela também pode desenhar soluções para problemas que a política normal não conseguiu resolver.

Como argumentei no artigo de ontem, reduzir as mortes numa pandemia exige ações coordenadas nas várias esferas de governo. Acontece que o Ministério da Saúde tem capacidade baixíssima de articular políticas para enfrentar a Covid, enquanto o presidente Bolsonaro está mais preocupado em acirrar conflitos do que em criar consensos.

Renovar o auxílio emergencial é importante, mas não vai impedir que as pessoas morram de covid esperando por leitos nos hospitais. O que ajudaria a reduzir as mortes é dar um tranco no Governo Federal e obrigá-lo a cooperar de verdade, sem sabotagens ou ambiguidades, com a guerra que se alastra por todos os Estados, mais dramática que nunca.

Uma CPI poderia ter esse efeito. CPI da Pandemia já.