Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado, o senador Fabiano Contarato (PT-ES) afastou as chances de politização dos trabalhos do colegiado às vésperas das eleições de 2026. À IstoÉ, o parlamentar rebateu o debate ideológico sobre o tema e minimizou a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que classificou a operação no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho como “matança”.
A comissão foi aberta em resposta à ação da polícia fluminense. A troca de tiros entre policiais e traficantes resultou em 121 mortos, sendo a operação mais letal na história do estado. O requerimento para a abertura do colegiado foi do senador Alessandro Vieira (MDB-SE), que relatará os trabalhos.
Antes mesmo do primeiro dia de audiência, governistas e oposição travaram uma batalha pelo comando da CPI. A disputa tinha como pano de fundo a tentativa de ganhar protagonismo sobre o tema às vésperas das eleições de 2026. Enquanto a direita tenta retomar para si a pauta da segurança pública, a esquerda tenta se reposicionar para minar o protagonismo dos adversários.
A presidência de Contarato entra nessa conta. Enquanto a oposição tentava emplacar o nome de Hamilton Mourão (Republicanos-RS), o governo se movia para fazer alterações em cima da hora para ganhar adesão ao nome do capixaba. Até a manhã de terça, o senador do Espírito Santo estava na suplência do colegiado, mas Jaques Wagner, líder do governo na Casa, optou por dar lugar ao colega.
Apesar da disputa política interna, Fabiano Contarato garante que os trabalhos não serão contaminados pela proximidade das eleições. “Conduzirei esta CPI para coibir a pirotecnia e o discurso eleitoral ou ideológico, visando um serviço mais eficiente e aglutinador entre todos os entes federais. Nosso objetivo é que o Estado atue com firmeza nos locais onde o crime organizado atua, entregando o que for de competência do legislativo e restaurando a segurança, que é uma pauta de todos, não apenas de uma ala política”, disse o presidente da comissão, em conversa com a reportagem.
O senador rebate a disputa entre as alas pelo protagonismo do tema. Para ele, há falhas do Estado na segurança pública e a “romantização” da pauta atrapalha o avanço de medidas para reduzir os índices de criminalidade. “A segurança pública não pode ser uma pauta romantizada ou exclusiva de um espectro político, mas sim uma responsabilidade de todos. O Estado, ao falhar, deixa comunidades subjugadas pelo crime, obrigadas a pagar por serviços básicos, e é esse ponto que a CPI deve enfrentar com seriedade”, reforçou.

Os senadores Fabiano Contarato (PT-ES) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na saída da CPI do Crime Organizado
A ala governista ganhou a maioria na CPI. Dos 11 membros, o Planalto conta com cinco votos garantidos: Otto Alencar (PSD-BA), Contarato, Jorge Kajuru (PSB-GO), Ângelo Coronel (PSD-BA) e Rogério Carvalho (PT-SE). Independente, Vieira tende a votar com o governo no colegiado. O número pode aumentar com Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), suplente em um dos blocos que conta com dois da ala oposicionista. Já a oposição conta com outros cinco membros: Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Hamilton Mourão, Márcio Bittar (PL-AC), Marcos do Val (Podemos-ES) e Magno Malta (PL-ES).
Logo no primeiro dia de trabalho, o colegiado aprovou o plano de trabalho sugerido por Alessandro Vieira, além de requerimentos de convites de autoridades, como o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Governadores, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Cláudio Castro (PL-RJ), e secretários de Segurança Pública também foram convidados. Especialistas e jornalista também entraram no rol dos chamados.
Embora a comissão tenha o objetivo de ir no cerne do crime organizado, como o avanço pelo país e a estrutura financeira das facções, os senadores não devem avançar em grandes convocações neste primeiro momento. “A convocação será utilizada caso haja descumprimento de convites, e o trabalho abrange diversos campos, como a ocupação territorial por facções e as movimentações financeiras, incluindo criptomoedas. A formatação das investigações dependerá do desenvolvimento dos fatos, pois em uma CPI, novos elementos podem surgir e se tornar objeto de apuração”, concluiu.
Contarato também minimizou a fala de Lula, que classificou a operação fluminense como “matança”. Para o senador, a declaração do presidente diz respeito ao sucesso da ação, que não efetivou a prisão de Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, um dos principais líderes do CV. “A operação não teve êxito ao não prender o Doca. Foram 121 mortes, sendo quatro policiais”, reforçou Contarato.