12/04/2021 - 14:41
Oficialmente, não houve um único caso de infecção pelo coronavírus entre norte-coreanos. Mas há poucas dúvidas entre especialistas de que o país está sofrendo duramente com a pandemia.Em janeiro de 2020, quando a pandemia de covid-19 apenas começava a se espalhar pelo mundo, a Coreia do Norte foi um dos primeiros países a fechar suas fronteiras. Um ano depois, a situação no país permanece pouco clara. Mas vários relatos indicam que o povo norte-coreano estaria sofrendo tanto com o impacto econômico das medidas de isolamento quanto com o próprio vírus.
Pyongyang cerceia a liberdade de expressão, portanto é difícil descobrir o que exatamente está acontecendo no país. Mas montar o quebra-cabeças com fragmentos de informação pode dar uma ideia da realidade no país.
“A verdade é que não sabemos, não há fontes – fontes independentes – dentro do país, tais como trabalhadores humanitários ou da embaixada, como antes da pandemia”, diz Colin Zwirko, do instituto Korea Risk Group e da NK News, à DW.
Em relatórios para a Organização Mundial da Saúde, a Coreia do Norte afirma não ter nenhum caso de covid-19 entre as 43.052 pessoas que foram testadas até o momento.
Ainda assim, há poucas dúvidas entre os especialistas de que a Coreia do Norte tenha registrado casos do vírus, pois há relatos crescentes de pneumonia e infecções respiratórias com sintomas semelhantes aos da covid-19.
Mas chegar a uma descrição precisa da escala da propagação do vírus na Coreia do Norte é praticamente impossível.
“Mesmo que oficialmente a Coreia do Norte negue a existência de casos confirmados, suspeitamos que em regiões fronteiriças mais povoadas, onde há comércio ilegal, haja casos confirmados”, diz à DW o professor Kim Jeong, da Universidade de Estudos da Coreia do Norte.
Infecções e mortes
Há alguns relatos não confirmados sobre a propagação da covid na Coreia do Norte. Fontes oficiais dentro da província Hamgyong Norte disseram à rádio Free Asia (RFA), financiada pelo governo americano, que cerca de 5.400 pessoas foram diagnosticadas como pacientes suspeitos da covid -19 e mais de dez morreram após apresentarem os sintomas.
Fontes supostamente oficiais, não identificadas, na cidade norte-coreana de Rason, perto da Rússia, disseram à RFA, em março, que cerca de 6 mil casos e dezenas de mortes foram registradas com os sintomas da covid-19.
As Nações Unidas dizem que a Coreia do Norte está sofrendo sérios efeitos negativos da pandemia e do impacto econômico do autoisolamento do país. Em relatório para o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em Genebra, o relator especial sobre direitos humanos na Coreia do Norte, Tomas Ojea Quintana, destacou o aumento do número de crianças e idosos mendigando, de mortes por fome e execuções.
Consequências econômicas
Além do fechamento da fronteira, o governo norte-coreano continua a aplicar outras medidas de saúde pública, incluindo o uso obrigatório de máscara – muitas vezes com máscaras de pano caseiras – aumento da vigilância na fronteira, bloqueios temporários de estradas e isolamentos pontuais de determinadas regiões. A informação é de Jeong Eun Mee, um pesquisador do Instituto Coreano para a Unificação Nacional.
O professor Kim Jeong, por sua vez, afirma que o comércio com a China foi reduzido em 95%, levando a relatos de escassez de alimentos e necessidades básicas não apenas nas regiões mais pobres do país, mas também na capital, Pyongyang.
O subdesenvolvido setor de saúde da Coreia do Norte, segundo observadores, não é capaz de lidar com um surto grave do vírus.
A Coreia do Norte adotou uma estratégia extraordinariamente rigorosa, alguns dizem até paranoica, para impedir a entrada e a propagação do vírus no país. Recentemente, Pyongyang decidiu não enviar uma equipe para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em grande parte por medo da covid.
O êxodo estrangeiro
Após o início da pandemia, o governo também rapidamente restringiu os movimentos da comunidade diplomática em Pyongyang, aponta Zwirko, da NK News.
O último voo confirmado da Coreia do Norte para um destino estrangeiro foi em março de 2020. Desde então, todos os estrangeiros, incluindo trabalhadores humanitários e funcionários de embaixada, tiveram que cruzar uma fronteira terrestre para sair do país.
A Coreia do Norte não quer um trem ou ônibus para transportar pessoas através da fronteira e depois voltar, trazendo o vírus, então as pessoas tiveram que providenciar seu próprio transporte, às vezes uma carroça, para transportar seus pertences para fora do país.
“Eles não querem que as pessoas tragam nada de volta ao país”, diz Zwirko, da NK News.
Apenas nove embaixadas estrangeiras em Pyongyang permanecem abertas, com um total de menos de 290 estrangeiros na Coreia do Norte, de acordo com a embaixada russa. As medidas no país, diz a legação diplomática, são “sem precedentes em seu rigor”, e os norte-coreanos enfrentam a extrema escassez de bens básicos, incluindo remédios, e a falta de capacidade de resolver problemas de saúde”.
Potencial reabertura do comércio
Em março deste ano, a Coreia do Norte adotou a “Lei de Desinfecção das Importações” e construiu instalações de desinfetantes perto dos postos de fronteira, que deverão ser colocadas em uso quando a Coreia do Norte reabrir o comércio.
A reabertura também deve permitir a conclusão do Hospital Geral de Pyongyang, que estava programada para ser concluída em outubro passado, disse Kim Jeong.
Alguns observadores esperam que a Coreia do Norte possa abrir em breve sua fronteira com a China, pelo menos para o frete. A rádio RFA informou que inspetores estão sendo vistos nas novas instalações de quarentena em Dandong e Sinuiju, em ambos os lados da fronteira da China com a Coreia do Norte. Mas somente quando Pyongyang reabrir o país e permitir um acesso mais amplo aos trabalhadores humanitários e o corpo diplomático, a verdadeira realidade da pandemia na Coreia do Norte virá à tona.