Dezembro é o mês com o maior número de mortes por Covid-19 no Brasil desde setembro, segundo os dados apurados pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias de Saúde do país. As informações são do G1.

De acordo com os dados parciais deste mês, do dia 1º até às 13h desta terça-feira (29), 18.570 pessoas morrem por conta da doença. Esse número é maior que no mês de novembro, com 13.263, e outubro, com 16.016 óbitos registrados.

Esse número parcial já representa um aumento de 40% em relação às mortes registradas no mês passado. É a primeira vez, desde julho, que a quantidade de mortes em um mês supera a do mês anterior.

As médias móveis diárias calculadas pelo consórcio de imprensa para dezembro também apontaram que, em 21 dos primeiros 28 dias de dezembro, houve uma tendência de aumento nas mortes, ante os 12 dias com a mesma tendência em novembro.

Em entrevista à reportagem do G1, o físico Domingos Alves, responsável pelo Laboratório de Inteligência em Saúde da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, diz que o que se observa são consequências da segunda onda da pandemia.

“A segunda onda já se impôs desde o final de outubro. É óbvio que tenhamos um acréscimo no número de óbitos, em dezembro, que ainda não acabou, muito maior que em novembro”, diz Alves.

O físico ressalta que o padrão de óbitos da segunda fase da pandemia é diferente do registrado na primeira.

“Quando se via o número de casos crescendo na primeira onda, se esperava duas semanas e já se via o número de óbitos crescendo. Agora, o delay [atraso] tem mais de um mês. As pessoas se infectando são as mais jovens – demora mais para infectar os mais velhos e [a pessoa] vir a óbito”, diz o pesquisador da USP.

Alves diz que “aprendemos muito com o controle da pandemia. As pessoas internadas hoje vão menos a óbito do que no início”, mas alerta que o cenário visto hoje “ainda é a ponta do iceberg” e que a situação tende a se agravar num futuro breve.

“Para janeiro, esses dados vão se agravar. Nós vamos ter uma mortalidade por Covid aqui no Brasil não vista até agora na pandemia. O número de óbitos vai explodir”, diz o pesquisador.

Quem concorda com Domingos Alves é a enfermeira epidemiologista Ethel Macial, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), também à reportagem do G1.

“Com as festas de final de ano, com certeza termos muitos casos e muitas mortes, porque as pessoas não estão fazendo o distanciamento, estão se aglomerando”, diz.

Para a enfermeira, o aumento nas mortes visto agora em dezembro é reflexo de aglomerações anteriores, dos feriados de 12 de outubro, 2 de novembro e das eleições. E ela ressalta que os próprios políticos não deram bons exemplos de comportamentos para evitar a transmissão do coronavírus.

“As eleições tiveram influência. Políticos, pessoas se aglomerando: infelizmente foi o que nós vimos. A gente estava esperando o aumento de casos desde depois do feriado de outubro. Infelizmente, o que a gente faz hoje tem reflexo duas semanas depois. A gente vinha se preparando para chegar o verão muito próximo do controle. No final de outubro, viu a curva se modificando”, diz a epidemiologista.

Ela também alerta para que o fato de que, nesta fase, o risco de colapso dos sistemas de saúde, tanto público quanto privado, é ainda maior, porque os procedimentos que foram suspensos ao longo do ano por conta da pandemia voltaram a ser feitos. Com isso, pacientes de covid precisam “disputar” leitos de UTI com pessoas com outros problemas de saúde.

“Alguns estados que não tiveram colapso antes correm risco de ter agora. Leitos foram desativados. A nossa capacidade de resposta não está sendo tão rápida. A gente está num momento de muita preocupação”, diz a professora da Ufes.