Covardes e seus cúmplices

 Sergio Lima / AFP
Foto: Sergio Lima / AFP

Uma frase emblemática na filosofia estabelece que “a covardia é mãe da crueldade”. Ela é encontrada na obra do francês Michel de Montaigne e expõe o caráter dos cruéis. Em geral, eles se apequenam porque são covardes, por isso, se defendem. Não que isso os isente de responsabilidade, mas é mais fácil entender como pensam essas pessoas. Elas são fracas e se escondem na violência desmedida contra o outro. O ambiente obscuro que o Brasil vive remete aos atos de crueldade mais intensos da história recente. Se não for o maior. Um governo que assiste passivo à morte de milhares de pessoas – hoje quase meio milhão – é, então, antes de tudo covarde. E as práticas, embora públicas, são minimizadas por uma sutileza sem igual.

Choca o fato dos representantes públicos da República serem os principais criminosos. Principalmente, os legisladores são coparticipes da matança que a Covid provoca. Houve muitos e muitos momentos de omissão explícita do presidente e das casas legislativas. O afastamento de Bolsonaro da Presidência só não aconteceu porque, astuto, ele conhece bem como funciona o parlamento e deu para os seus ex-colegas as benesses almejadas. O impeachment de Bolsonaro teria evitado milhares de mortes. A maioria do Congresso se fartou de emendas. É público o tema e os covardes da República têm outros cúmplices. Milhões!

Os cúmplices são diversos, uns com maior responsabilidade que outros. Alguns são pessoas públicas, com milhões de seguidores nas mídias sociais, remunerados por direitos de imagens milionários. Também há aqueles que formam opinião e têm influência o suficiente para mobilizar a sociedade. Parcela dos cúmplices é formada por cidadãos bem esclarecidos, mas que colocaram o ódio acima de tudo e pouco têm empatia pela vida alheia. Por fim, existe o cidadão comum que se afeiçoou às ideias apregoadas no whatsapp da tia.

A Covid vai terminar e esse é o desejo de todos. Mas depois da tempestade será necessário fazer ajustes. A cobrança aos que erraram precisa ser austera. Nenhum covarde e seus cúmplices poderão ser esquecidos. Especialmente, os cúmplices que podiam ter feito algo e apenas se omitiram. Cadeia para os covardes.