“Estou chegando a uma idade em que o fim da vida se aproxima”, declara o cineasta franco-grego Costa-Gavras, que conta estar se preparando para a morte fazendo a sua especialidade: um filme polĆtico, Ć s vĆ©speras de seu aniversĆ”rio de 92 anos.
Adaptada de uma obra de RĆ©gis Debray e do mĆ©dico Claude Grange, “Le dernier souffle” (“O Ćltimo Suspiro”, em traduĆ§Ć£o livre) narra debates filosĆ³ficos sobre a morte entre um mĆ©dico em cuidados paliativos (Kad Merad) e um escritor (Denis PodalydĆØs).
O filme estreia na prĆ³xima semana na FranƧa.
“Eu gostaria que o final fosse bom. Sem dor, sem drama, sem agonia permanente”, disse ele Ć AFP no Festival LumiĆØre em Lyon, em outubro.
“Em nossa sociedade, nem todos os meios estĆ£o disponĆveis para que as pessoas (…) tenham um bom fim. A morte nos assusta terrivelmente desde que somos pequenos e nĆ£o queremos falar sobre isso. NĆ£o, temos que falar sobre isso e nos preparar!”, reflete.
“Ć por isso que fiz esse filme, para mim”, afirmou o diretor.
Nascido em 13 de fevereiro de 1933 em Loutra-Iraias, no Peloponeso, Konstantinos Gavras teve que deixar a GrƩcia devido ao ativismo antimonarquista de seu pai. Ele chegou a Paris em 1955, aos 20 anos de idade.
O cineasta se consagrou a partir do final da dĆ©cada de 1960 com seus thrillers polĆticos, como “Z” (1969), em reaĆ§Ć£o ao golpe dos coronĆ©is em Atenas, ou “A ConfissĆ£o’, baseado no testemunho de Artur London contra os expurgos comunistas na TchecoslovĆ”quia.
JĆ” “Desaparecido: Um Grande MistĆ©rio”, estrelado por Jack Lemmon, Ć© uma acusaĆ§Ć£o ao golpe de Estado de 1973 no Chile.
“Ć sempre difĆcil fazer um filme polĆtico. Isto assusta os produtores e tambĆ©m os financiadores”, admitiu.
Costa-Gavras diz que deve sua liberdade criativa Ć esposa MichĆØle Ray Gavras, “que organizou nossa vida de forma que eu pudesse fazer os filmes que queria fazer”, e ao sucesso de suas primeiras produƧƵes.
Ele estĆ” convencido de que “todos os filmes sĆ£o polĆticos, nĆ£o sĆ³ os meus”.
“Para mim, os filmes sĆ£o como uma conversa que vocĆŖ tem com amigos em torno de uma mesa: tomamos uma boa bebida, comemos bem e contamos histĆ³rias uns aos outros. Todos estĆ£o tentando contar uma histĆ³ria que os afeta profundamente”, diz ele.
Mais do que uma tĆ©cnica ou uma estĆ©tica, o cineasta insiste na importĆ¢ncia dos atores. Durante muito tempo, filmou com seu grupo de amigos, sobretudo Yves Montand e Simone Signoret.
“VocĆŖ sempre precisa estabelecer uma relaĆ§Ć£o muito prĆ³xima com um ator para que ele se torne o personagem que queremos que ele seja. Eu nĆ£o dirijo os atores, eu colaboro com eles”, afirmou.
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