SÃO PAULO, 2 OUT (ANSA) – Os programas do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) no Brasil sofreram um corte de 50% em 2025 devido à redução do empenho humanitário dos Estados Unidos sob a gestão do presidente Donald Trump e ao aumento dos gastos com defesa ao redor do mundo.
“O novo cenário tem sido bem desafiador, e os cortes têm sido brutais e muito repentinos”, afirmou o italiano Davide Torzilli, chefe da agência da ONU no Brasil, em entrevista à ANSA à margem do 4º encontro anual do Fórum Empresas com Refugiados, iniciativa que discute boas práticas do setor privado para a inclusão de pessoas sob proteção internacional.
Segundo Torzilli, além de uma redução de 50% nos programas, a operação brasileira do Acnur ? que tem a Embaixada Itália em Brasília como um de seus principais parceiros ? foi forçada a diminuir sua equipe em 40% devido à crise de financiamento.
“Esses cortes vêm principalmente dos Estados Unidos, que são o principal financiador do Acnur, mas não só. Temos reduções de vários doadores que, pelas mudanças geopolíticas e pelos conflitos que estão atrapalhando o mundo, têm focado mais em gastos de defesa e em outras prioridades”, acrescentou.
Desde que voltou ao poder, Trump impôs cortes severos de repasses para ajudas no exterior e fechou a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), principal organismo do governo para cooperação humanitária.
O Brasil tem atualmente mais de 200 mil pessoas entre refugiados e solicitantes de refúgio, sobretudo venezuelanos, que ainda desembarcam no país ao ritmo de 300 a 400 por dia. Com o novo cenário, no entanto, o Acnur teve de reduzir atividades de distribuição de itens de primeira necessidade e atendimentos para capacitação dos deslocados recém-chegados.
“Ao mesmo tempo, estamos procurando alternativas para recuperar esses vazios. Nós nos engajamos ainda mais em uma diversificação da estratégia de arrecadação com nossos parceiros, desde governos até atores da sociedade civil, e o fórum é fundamental nesse trabalho com as empresas privadas, que têm um papel ainda mais importante nesse contexto tão desafiador”, salientou Torzilli. (ANSA).