Era outubro de 2009 quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Rei Pelé e o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, comemoravam com abraços, choros e gritos a vitória brasileira na concorrência para sediar a Olimpíada de 2016. A escolha pelo Rio de Janeiro, que venceu Madri por 66 votos a 32, marcava mais de uma década de trabalho, principalmente de Nuzman, para trazer o evento ao País. Pelo menos um desses votos, o de Lamine Diack, então presidente da Federação Internacional de Atletismo e membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) pode ter sido comprado. O preço: US$ 2 milhões (R$ 6,4 milhões) depositados pelo empresário Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido como o “Rei Arthur”, na conta do filho de Diack, Papa Massata Diack, em 29 de setembro de 2009, três dias antes da votação. Segundo investigações do Ministério Público Federal, Soares não fez a negociação sozinho: ele, Nuzman e ao ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), teriam feito diversas viagens internacionais para articular a suposta compra de votos.

A cerimônia de abertura dos Jogos 

Nuzman e Sergio Cabral fizeram 15 viagens internacionais para articular a compra de votos para os Jogos do Rio

Nuzman e Arthur foram alvos, na terça-feira 5, da Operação Unfair Play, uma nova fase da Lava Jato que tem apoio de autoridades francesas. Tudo começou no ano passado com a investigação do pagamento de propina a membros do COI para que fizessem vista grossa a casos de doping. Foi em meio a essa apuração que o Ministério Público francês descobriu os depósitos feitos por Soares em contas de membros da federação de atletismo. Foram expedidos mandados de prisão para o “Rei Arthur”, que está em Miami, e sua sócia. Nuzman teve sua casa alvo de buscas e foi levado para prestar depoimento na Polícia Federal, mas deixou o local sem dizer uma só palavra. Ele apenas entregou seus passaportes (o brasileiro, o russo e o diplomático), mas afirmou que só comentará o caso em juízo. Ambos tiveram bens bloqueados.

Passaporte comprado

O passaporte russo de Nuzman pode ter sido comprado. Segundo o depoimento do ex-atleta Eric Maleson, que presidiu a Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, o preço teria sido seu voto a favor da candidatura da Rússia para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014. Na casa do ex-presidente do COB a Polícia Federal apreendeu dois carros e um total de R$ 480 mil em espécie. As sedes do COB e do Comitë Rio-2016 também foram alvos de mandados de busca e apreensão. Atletas brasileiros repercutiram o escândalo nas redes sociais usando palavras como “vergonha” e relembrando as más condições dos centros de treinamento brasileiros. Enquanto eles sofrem, há quem encha os bolsos de dinheiro.