Se você tem a sensação de que cada vez mais pessoas estão correndo, está certo. A corrida de rua conquistou os brasileiros e transformou-se em um verdadeiro fenômeno esportivo. O Brasil já soma cerca de 19 milhões de praticantes, ocupando a segunda posição global no Strava — aplicativo que registra e compartilha atividades físicas como corrida e ciclismo —, atrás apenas dos Estados Unidos.
O crescimento não acontece apenas no digital: segundo levantamento da própria plataforma, o número de clubes de corrida no Brasil cresceu 109%, quase o dobro da média mundial de 59%. A busca por saúde, performance e socialização impulsiona um movimento que vai muito além das pistas — e que fortalece todo o ecossistema esportivo.
Um reflexo disso é o crescimento acelerado do setor de academias e espaços de bem-estar. Segundo a IHRSA (International Health, Racquet & Sportsclub Association), o segmento movimenta US$ 2,1 bilhões ao ano no Brasil, com mais de 34 mil estabelecimentos atendendo 9,6 milhões de usuários. De 2014 a 2024, o número de academias quase triplicou, saltando de 19.266 para 56.833 unidades.
“O crescimento reflete a crescente preocupação da população brasileira com a saúde e a busca por qualidade de vida”, analisa Thiago Muniz, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e CEO da Receita Previsível.
Esse avanço do universo fitness também impulsiona o empreendedorismo local, com negócios como assessorias esportivas, lojas especializadas e equipes de corrida se multiplicando pelos centros urbanos. É o caso da carioca Vamos Juntos, projeto que nasceu em 2021 unindo loja de artigos esportivos e equipe de corrida. Com investimento inicial de pouco mais de R$ 10 mil, o grupo passou de 120 atletas em 2022 para mais de 200 em 2024, e busca atingir 350 em 2025.
“A corrida de rua teve um grande crescimento devido a uma combinação de fatores, incluindo a busca por qualidade de vida, a valorização da saúde física e mental após a pandemia, além da socialização e o desejo de participar de eventos esportivos”, afirma a cofundadora Rayra Zacconi.
Outro exemplo de adaptação dentro do universo esportivo vem da personal trainer Flávia Oliveira, que atende 300 alunas entre os formatos presencial e online. Utilizando materiais simples como cabo de vassoura e garrafas de água, ela desenvolveu um método funcional que atende desde donas de casa até executivas, entre 30 e 55 anos.
“A ideia de usar esse tipo de material é porque é de fácil acesso, algo que todo mundo consegue ter. Às vezes a pessoa não tem condições de comprar um equipamento, então ela compra a garrafa de mate, consome e depois fica como um peso”, explica. Segundo Flávia, os resultados são visíveis: “não só de corpo, mas uma melhora na qualidade física, na aptidão geral e no bem-estar físico e psicossocial”.
Muniz reforça que, embora a área esteja em expansão, o sucesso exige preparo. “Ter experiência ou especialização em saúde, educação física ou gestão de negócios é altamente recomendável. O conhecimento técnico e gerencial contribui para a qualidade dos serviços oferecidos, segurança dos clientes e eficiência na administração”, destaca.
Por fim, ainda alerta para a importância do planejamento: “Muitos negócios fecham nos primeiros anos por não planejarem um capital de giro suficiente. Segundo o IBGE, cerca de 60% das empresas vão à falência antes de completar cinco anos.”