Sem partido há dois anos, Bolsonaro está sendo pressionado pelo calendário: ele tem até o final de março para se filiar a uma agremiação partidária para poder disputar as eleições. Essa é uma exigência da legislação. Como não conseguiu criar sua própria legenda e muitas outras lhe fecharam as portas, o presidente está novamente refém do Centrão, desta vez para cumprir os ritos legais para o registro da candidatura. O Progressista, do ministro Ciro Nogueira, é a tábua de salvação, mas o mandatário foi avisado que não será recebido como “dono do pedaço”, já que o PP tem muitos filiados que defendem até apoio a Lula. Outra alternativa analisada seria se filiar ao PTB de Roberto Jefferson, embora a prisão do mensaleiro por ataques ao STF esteja inviabilizando a iniciativa.

PSL

O grande arrependimento de Bolsonaro foi ter deixado o PSL, pelo qual se elegeu em 2018. Se ele tivesse ficado na legenda de Luciano Bivar, poderia agora se beneficiar da fusão com o DEM, que formará o União Brasil, o maior partido brasileiro, com 81 deputados e um fundo eleitoral de R$ 320 milhões, além de R$ 138 milhões de fundo partidário.

Camaleão

O presidente, no entanto, não se revela desesperado pelos reveses. Afinal, ele tem um passado de incoerência partidária. Em 30 anos de vida pública, pertenceu a oito partidos (PDC, PPR, PPB, PFL, PTB, PP, PSC e PSL) e sempre fez questão de demonstrar que dá mais valor à máquina de fake news nas mídias sociais do que à estrutura partidária.

Um general no Congresso

ERNESTO RODRIGUES

O general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro, decidiu que vai disputar uma vaga no Congresso no ano que vem. Ele ainda não resolveu por qual partido e nem se concorrerá a uma vaga de senador ou de deputado pelo Distrito Federal. Sabe apenas que pretende servir de contraponto ao presidente para impedi-lo de usar as Forças Armadas como ferramenta de uso pessoal.

Retrato falado

“Não creio na unidade do centro, pois o ideal em política quase sempre é empurrado pelas ambições pessoais” (Crédito:Lucas Lima)

O senador Alvaro Dias diz que a alternativa pelo caminho do meio na sucessão presidencial está sendo impulsionada pelo desejo de parte expressiva da população, descontente com a polarização entre Lula e Bolsonaro. Ele não acredita, contudo, em consenso no centro democrático para permitir o surgimento de um candidato único desse segmento de pensamento. O líder do Podemos no Senado defende a refundação da República por entender que a atual gestão vive nos tempos do Império.

O efeito da vacina

Para calar os negacionistas, o IBGE acaba de divulgar dados comprovando que o efeito da imunização contra a Covid é inquestionável. A vacinação permitiu a reabertura do comércio e foi responsável pela queda na taxa de desemprego. No trimestre encerrado em julho, o número de pessoas sem trabalho caiu de 14,8 milhões para 14,1 milhões (foram criadas 676 mil novas vagas). Mas antes que os desavisados achem que foi obra do governo Bolsonaro, vale lembrar que ele foi contra a vacina. Além disso, o avanço no emprego se deu em cima da contratação de mais gente sem carteira assinada e no aumento dos que passaram a trabalhar por conta própria: 36 milhões estão na informalidade.

Toma lá dá cá

Fabiano Contarato, senador da Rede-ES (Crédito:Marcos Oliveira)

O senhor vai formalizar a denúncia por homofobia contra Otávio Fakhoury?
Pedi que a Polícia Legislativa do Senado investigue crime de homofobia, que, por decisão do STF, foi equiparado ao de racismo. Orientação sexual não define caráter.

Considera que esse tipo de comportamento é estimulado pelo clima de ódio disseminado por Bolsonaro?
Infelizmente, sim. O presidente da República estimula o ódio, o preconceito e a violência com seu discurso homofóbico.

O que deve ser feito para mudar esse quadro?
O País precisa investir em educação para superar esse pântano de discriminação que viceja num Brasil marcado pela negação de direitos de cidadania. A Constituição determina o combate a todo
tipo de preconceito.

Política de boa vizinhança

O governador João Doria (SP) se reuniu na sexta-feira, 1º, em Belo Horizonte, com o governador Romeu Zema (MG), para formalizar uma série de acordos de cooperação entre os dois estados. No sábado, ainda em Minas, o paulista participou de evento das prévias do PSDB para receber o apoio de vários prefeitos mineiros e do deputado Domingos Sávio.

Divulgação

Placar das prévias

Doria contabiliza o apoio dos diretórios de São Paulo, Distrito Federal, Acre, Pará e Tocantins, enquanto o governador gaúcho, Eduardo Leite, conta com a adesão do Rio Grande do Sul, Ceará, Minas Gerais e Alagoas. Em breve, o paulista terá o reforço do Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, ampliando a vantagem.

Queda no rendimento

Há ainda outros motivos para não se comemorar a pequena redução na taxa de desemprego. É que o rendimento médio dos trabalhadores, calculado em R$ 2.508, caiu 8,8% no trimestre encerrado em julho. Além disso, o Brasil ainda tem 5,4 milhões de “desalentados”, que são os que desistiram de procurar emprego.

Estranho no ninho

O deputado Felipe Rigoni (ES) é mais uma vítima do sectarismo da esquerda. Ameaçado de expulsão do PSB por ter votado a favor da Reforma da Previdência, o parlamentar ficou sem espaço entre os socialistas e decidiu mudar de partido. Enquanto isso não se concretiza, vai militando no Livres, de valores liberais. Tábata Amaral deixou o PDT pelo mesmo motivo.

Rápidas

* As vaias e tentativas de agressões que Ciro Gomes sofreu de petistas no ato contra Bolsonaro no último sábado, 2, na avenida Paulista, em São Paulo, serviram para sepultar de vez qualquer iniciativa de unidade das esquerdas com vistas às eleições do ano que vem.

*A demora na sabatina de André Mendonça para o STF está provocando um certo caos administrativo no gabinete que pertencia ao ministro Marco Aurélio, aposentado em julho: mais de 1.100 processos estão represados.

* O INPE jogou água no chope da festa dos mil dias do governo Bolsonaro. Mostrou que, nesse período, o desmatamento na Amazônia destruiu uma área de 2,4 milhões de hectares, o equivalente a 3,3 milhões de campos de futebol.

* Pode não ser ilegal o fato de Paulo Guedes manter a fortuna de R$ 51 milhões no paraíso de Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, para fugir dos elevados tributos brasileiros, mas é extremamente imoral e indecente.