Representantes de 184 países têm nesta quinta-feira (14) apenas algumas horas para elaborar o primeiro tratado internacional contra a poluição por plásticos, depois que um projeto de acordo foi rejeitado na quarta-feira.
Os debates na quarta-feira na assembleia plenária da ONU em Genebra sobre uma proposta de síntese de 10 páginas aconteceram em um cenário de grande confusão.
Apenas um grande país, a Índia, aceitou o texto como base de discussão, enquanto a maioria dos governos e organizações participantes o consideraram “desequilibrado” e “inaceitável” para proteger as futuras gerações.
A representação da Colômbia, que deseja um texto ambicioso para combater a poluição por plásticos, considerou o documento “inaceitável”. Chile, México, Panamá, Canadá e União Europeia se uniram à posição colombiana, assim como as pequenas ilhas do Pacífico.
Apesar das dificuldades, Cate Bonacini, da ONG suíça CIEL, acredita que “ainda há possibilidade de que um novo texto seja apresentado nesta quinta-feira”.
A ministra francesa da Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher, destacou que é “possível escrever um texto de 10 páginas mais equilibrado”.
O final das negociações está previsto para meia-noite de quinta-feira, mas o prazo pode ser ampliado até sexta-feira se os diplomatas estiverem perto de alcançar um texto comum.
Estimulados por uma resolução da ONU de 2022, os países tentam elaborar desde então um texto “juridicamente vinculante” que aborde a poluição por plásticos, inclusive no mar.
Contudo, sob pressão dos representantes da indústria petroquímica, contrários a qualquer medida sobre o volume de produção de plásticos no mundo, a comunidade internacional fracassou em elaborar um texto comum na rodada anterior de negociações, no final de 2024 em Busan, Coreia do Sul.
A nova rodada diplomática, iniciada em 5 de agosto em Genebra, pretendia finalmente alcançar um acordo sobre um documento comum.
A conscientização sobre a crescente poluição por plásticos começou com imagens impactantes dos oceanos e da fauna marinha afetadas.
Mas a multiplicação de estudos científicos sobre o impacto dos polímeros e aditivos químicos na saúde fez o debate evoluir para os efeitos nos seres humanos. Uma coalizão de centenas de cientistas de vários países acompanha as negociações.
O planeta produziu mais plástico desde 2000 do que nos 50 anos anteriores, em sua maioria produtos de uso único e embalagens.
E a tendência prossegue: se nada for feito, a produção atual, de quase 450 milhões de toneladas anuais, triplicará até 2060, segundo as previsões da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Menos de 10% do material é reciclado.
O projeto de tratado apresentado na quarta-feira “garantia apenas que nada iria mudar”, afirmou David Azoulay do CIEL.
O texto “se rende aos Estados petroleiros e às demandas da indústria com medidas fracas, não obrigatórias, que garantem que continuaremos produzindo cada vez mais plástico, colocando em risco a saúde humana, o meio ambiente e as futuras gerações”, acrescentou.
Além disso, como exige a indústria, “tudo é delegado ao nível nacional, o texto não cria nenhum espaço de cooperação internacional para combater a poluição por plásticos”, criticou um representante chileno nas negociações.
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