(Corrige no 2º parágrafo para “4 de novembro” em vez de “5 de novembro”)

Por Dhara Ranasinghe e Sujata Rao

LONDRES (Reuters) – Os mercados financeiros, que têm lutado neste ano para decifrar os sinais de política monetária dos bancos centrais, vão enfrentar seu maior desafio quando, em um espaço de 24 horas em meados de dezembro, os bancos centrais de Estados Unidos (Fed), zona do euro (BCE) e Inglaterra (BoE) realizarem reuniões cruciais.

Isso ocorre ao fim de um ano em que os bancos centrais geraram crises frequentes de turbulência, sendo os exemplos mais recentes o choque com a manutenção de juros pelo BoE em 4 de novembro, o tímido afastamento de aumento de juros no mês passado pelo BCE e o fracasso do BC australiano em outubro em defender sua meta de rendimento de títulos.

Não é surpreendente, então, que cerca de uma semana antes da safra final de reuniões de 2021 as medidas de mercado de volatilidade dos preços dos ativos estejam saltando, com indicadores de oscilação de preços de títulos e moedas atingindo os patamares mais altos em meses.

Em 15 de dezembro, o comunicado de política monetária do Fed, com divulgação prevista para 16h (de Brasília) pode anunciar uma redução mais rápida das compras de ativos e revelar seu pensamento sobre aumentos futuros dos juros.

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No dia seguinte, o BoE se reúne, depois de em novembro ter mantido os juros, em desacordo com o que estava embutido nos preços de mercado.

Menos de uma hora depois, o Banco Central Europeu pode anunciar planos para dois programas importantes de compra de títulos –e as implicações podem ser grandes para Estados altamente endividados, como a Itália.

Mensagens de política monetária, por sua própria natureza, são algo inexato. Mas a inflação inesperadamente insistente, as ameaças das cadeias de suprimentos à recuperação econômica e o constante risco de cauda da Covid-19 agora tornam os resultados especialmente difíceis de modelar.

“Seja Madame Lagarde, Andrew Bailey ou Jay Powell, as circunstâncias atuais estão criando uma tempestade quase perfeita de desafios à comunicação dos bancos centrais”, disse Carl Tannenbaum, economista-chefe da Northern Trust e que trabalhou na seção de risco do Fed durante a crise financeira de 2008.

Ele espera que as reuniões gerem “uma discussão muito mais franca e abrangente”, especialmente sobre os mercados de trabalho e a inflação.

Investidores expressam simpatia pelos banqueiros centrais, cujo trabalho em caminhar na corda bamba da comunicação se tornou ainda mais complicado nos últimos anos devido à enorme influência dos mercados, muito maior do que a safra anterior de banqueiros centrais teve de enfrentar.

O valor das ações globais está se aproximando de 100 trilhões de dólares, quase o dobro dos níveis pré-pandemia. Gastos excessivos de governos expandiram os mercados de títulos. Negociando com avaliações elevadas, o potencial para contratempos é enorme.

E o impacto da sinalização ressoa muito além dos mercados –os bancos britânicos estavam tão confiantes no aumento das taxas de juros em novembro que elevaram os custos dos empréstimos imobiliários antes da reunião do BoE.

O que os bancos centrais precisam transmitir é claro –que eles fornecerão o suporte necessário no curto prazo e a estabilidade de preços no longo prazo. Mas, em mercados turbinados, em que o sentimento muda repentinamente, é mais difícil do que parece.

Isso pode levar a um repensar das estratégias de sinalização: Bailey, chefe do BoE, por exemplo, até sugeriu retornar a uma postura sem orientação futura.

Richard Barwell, ex-economista do BoE que chefia a área de pesquisa macro na BNP Paribas Asset Management, diz que os bancos centrais gostariam de preservar a opção de aperto da política monetária, mas sem se comprometer com ele.


“O desafio é fazer a mudança necessária –e criar essa opção– sem desestabilizar os mercados, convencendo-os de que a opção certamente será exercida”, disse ele.

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