Elas estão na moda em Londres e Berlim faz tempo. Em Nova York, surgiram há quase 15 anos – e foi de lá que veio o nome pelo qual estão se popularizando no Brasil: “crews” (em português, equipes) de corrida. São grupos informais que reúnem corredores diletantes para, juntos, praticarem o exercício em ruas, avenidas e parques. Não é preciso ser atleta, apenas ter vontade de correr, de se enturmar e, o melhor, de se divertir. Isso porque os encontros ultrapassam os limites da prática esportiva e valorizam também a interação social. Impulsionada por grandes marcas esportivas, a onda começou em São Paulo e a adesão foi rápida. O projeto Adidas Runners, lançado em agosto de 2017, juntou até agora mais de 5.000 pessoas nos eventos promovidos pelos oito grupos patrocinados na capital paulista. Há planos para chegar ao Rio de Janeiro – onde a Nike patrocina três grupos, além de outros cinco em São Paulo.

Uma das primeiras “crews” paulistanas é a Damn Gang, que tem como objetivo promover uma nova relação com o espaço urbano. “De modo geral, nosso público tem uma mentalidade parecida”, afirma o arquiteto Caco Cruz, 27 anos, um dos fundadores da Damn Gang, que tem parceria com a Nike. “Corro há muito tempo e já vi várias ‘modinhas’: pessoas correrem inspiradas em famosos, por causa das consultorias esportivas, dos aplicativos de treino, das blogueiras”, diz o publicitário Felipe Paku, 28 anos, também fundador da Damn Gang. “Agora, a moda são os grupos”. Eles têm como ponto de partida e de chegada bares, lanchonetes e hamburguerias – o que deixa claro o quanto fazer exercício é apenas uma parte do programa. Conhecer pessoas e desbravar a cidade são atividades tão importantes quanto a corrida.

FESTA Depois do exercício, corredores se encontram para fazer a social: ponto de encontro em bares e hamburguerias (Crédito:Divulgação)

Hoje há “crews” para todo tipo de interessado: grupos só de mulheres, formados por gays, veganos, para iniciantes, para quem quer fazer festa depois do exercício, de manhã, à noite, aos fins de semana. O acolhimento e a identificação fizeram o multiartista Marcos Paulo Santos Miranda, 42 anos, se tornar adepto dos treinos do Unicorns, grupo de esportes LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersex). A equipe começou como time de futebol e hoje promove outros encontros esportivos, entre eles a corrida. Os corres são feitos em diferentes pontos de São Paulo. Durante o exercício, membros do grupo correm com caixas de som, com a trilha sonora de cantoras pop, de Madonna a Anitta. No meio do caminho, os líderes da “crew” falam o tempo, a distância e incentivam os corredores. “Comecei a correr com o Unicorns e posso dizer que aprendi a me aceitar mais”, afirma Marcos. “Costumo me dar bem com todas as pessoas, mas sinto que ali, eu sendo gay e ao lado de outros gays, não tenho medo de alguém passar e fazer comentários preconceituosos”, diz. “Pelo contrário, me dá força.”

Namoro 

Uma das fundadoras do grupo de mulheres Elas que Voam, Esther Carvalho Paranha, 23 anos, afirma que fazer novos contatos e companheiros é uma das motivações de quem começa a correr com a equipe. “É um dos pontos mais significativos desse trabalho. Algumas mulheres vêm inseguras, depois começam a firmar amizade, combinam de fazer corridas juntas”, diz Esther. Ela avisa que todos são bem-vindos, apesar de o grupo ter predominância feminina.

Por trás da moda há ações de marketing de grandes marcas esportivas. Elas fornecem tênis e camisetas e, em alguns casos, contribuem com uma verba mensal para os gastos gerais do grupo. “A Nike já estava namorando a gente fazia uns oito meses. Eles estão de olho nos grupos de corrida com mais gente e entram com parceria. Foi o que aconteceu conosco”, afirma Emerson Carvalho, 41 anos, um dos criadores da Seven Runners Crew. “O nosso site tem patrocínio da marca, não pode usar outra, eles fornecem tênis e vestuário e dão ajuda de custo de R$ 2 mil para água, isotônico e camisetas pra quem corre com a gente.”

Carvalho afirma que o sucesso dos grupos se dá também pela diversidade de perfis. “O nosso tem o objetivo de tirar as pessoas do sofá. E está dando certo.” Diretora de marca para corrida da Nike do Brasil, Martina Valle explica que o objetivo dos apoios que fornece é dar visibilidade a esses grupos para que mais pessoas possam se juntar. “Isso até se sentirem inspiradas a criarem suas próprias ‘crews’ pelo Brasil inteiro.”

Assessorias apostam na diversidade de perfis

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Mais tradicionais que as “crews” por existirem há mais tempo, as assessorias esportivas já se consolidaram como uma opção aos corredores que querem melhorar a performance com exercícios focados – diferentemente dos grupos informais, em que, pelo menos na maioria dos casos, não há treinador nem são passados treinos específicos. Há as que invistam em treinos urbanos, voltados para corrida de rua, e outras com foco em práticas outdoor, como é o caso do Núcleo Aventura, de São Paulo. “O núcleo nasceu como uma solução para tirar as pessoas do estado caótico da cidade, mas dentro da própria urbe. Depois, a pessoa abre o paladar e vamos para a mata, a montanha”, afirma o diretor geral José Caputo. “A intenção é abrir a percepção.” Caputo afirma que os treinos são momentos sociais. “A performance vem de carona.”