MILÃO, 23 NOV (ANSA) – O corpo da italiana Ornella Vanoni começou a ser velado neste domingo (23), no Piccolo Teatro Grassi, em Milão, onde é esperado uma multidão de fãs e personalidades para se despedir da icônica cantora, que faleceu aos 91 anos.
A capela funerária ficará aberta até às 14h de hoje, e amanhã (24) estará disponível das 10h às 13h (horário local). Às 15h, ocorrerá o funeral na Igreja de San Marco, no charmoso bairro de Brera, onde Vanoni viveu grande parte de sua vida.
O caixão com o corpo da italiana foi recebido por uma multidão, que fazia fila para se despedir, com uma longa salva de palmas.
Entre as autoridades presentes estavam o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, e o vereador de Cultura, Tommaso Sacchi.
Do lado de fora do Piccolo Teatro Grassi, uma fila impressionante se formou na Via Dante, chegando quase à Piazza Cairoli. Centenas de pessoas aguardam para se despedir de uma das maiores figuras da música italiana.
A cerimônia teve início com um breve momento de silêncio e, logo depois, a canção “Domani è un altro giorno”, de Vanoni, foi tocada repetidamente. A cantora Emma Marrone foi uma das primeiras a prestar suas homenagens.
O prefeito de Milão falou sobre o impacto que Ornella teve na cidade, destacando que ela “representa a essência milanesa, entendida como o desejo de ser livre e não estar sempre condicionado pelo julgamento alheio, pela corrente dominante”.
“Desse ponto de vista, ela foi um belo exemplo, uma história profundamente dedicada à nossa cidade, e por isso acredito que devemos encontrar maneiras de sermos gratos, mas também de transmitir seus ensinamentos”, salientou.
Sala também mencionou a importância de manter vivo o legado de Ornella na cidade, reconhecendo a necessidade de uma homenagem significativa.
“Ela foi uma figura tão importante em Milão que precisamos encontrar uma forma de dar continuidade ao seu legado. Estamos pensando nisso”, acrescentou o prefeito, lembrando que, apesar da dor pela perda, a cidade precisa se reunir para honrar a memória da cantora.
Vanoni, que sempre teve uma relação muito próxima com a cidade, pediu em vida que fosse dedicado um canteiro de flores em sua homenagem. “Isso também fazia parte da brincadeira”, destacou Sala, comentando com carinho sobre a personalidade da artista.
O prefeito também relembrou que, apesar de saber dos problemas de saúde da cantora, ela sempre teve um espírito forte e parecia invencível: “Era uma mulher extraordinária. Quando ela vinha ao meu escritório, não me perguntava sobre trabalho, mas sobre a minha vida pessoal. Queria saber se eu estava feliz, se estava com raiva, como estava meu relacionamento. Tentaremos nos lembrar dela da melhor maneira possível”, concluiu Sala.
Figura sempre envolta em mistério, a cantora permaneceu na cena por quase 70 anos, com sua personalidade pirotécnica, classe de artista e uma carreira rica de sucessos. Não é por acaso que, até o último dia, foi uma convidada disputadíssima em programas de televisão, pelas histórias que contava, por sua imprevisibilidade e total indiferença ao politicamente correto e às regras da etiqueta da TV.
Ao longo de sua carreira, ela transitou por repertórios diversos – de Roberto Carlos (“L’appuntamento”) a Piaf (“L’albergo a ore”), passando por Tammy Wynette (“Domani è un altro giorno”).
Esse percurso culminou na intuição de Sergio Bardotti, que a levou a gravar “La voglia, la pazzia, l’incoscienza e l’allegria” com Vinicius de Moraes e Toquinho, com canções assinadas por Tom Jobim e Chico Buarque ? um álbum histórico que ajudou a difundir a música brasileira na Itália. (ANSA).