12/05/2020 - 13:30
O novo coronavírus já circulava pelo Brasil desde o início de fevereiro, antes do carnaval e da detecção oficial do primeiro caso, aponta um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Segundo o estudo, que usa uma “metodologia estatística de inferência a partir dos registros de mortes”, a COVID-19 “começou a se espalhar (no país) aproximadamente na primeira semana de fevereiro”, 20 dias antes do primeiro diagnóstico oficial em São Paulo e 40 dias antes de que a transmissão comunitária fosse confirmada.
Enquanto países da Europa e da América “observavam os passageiros e confirmavam os primeiros casos importados da COVID-19, a transmissão comunitária (quando já não se é possível rastrear a origem do contágio) já estava acontecendo” no Brasil, explicou a fundação, referência em saúde pública na América Latina.
Entre 21 e 25 de fevereiro, ocorreu no país o carnaval, atraindo grandes multidões às ruas de todo o Brasil.
Em 26 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, dia em que os brasileiros terminam a folia oficialmente, o país anunciou seu primeiro caso da COVID-19.
Até agora, o coronavírus deixou mais de 11.500 mortes e mais de 168.000 casos da doença no Brasil, segundo dados oficiais.
Segundo especialistas, no entanto, o número de infectados pode ser até 15 vezes maior, já que testes em massa não estão sendo feitos.
O estudo da Fiocruz sugere que, como no Brasil, na Itália, na Holanda e nos Estados Unidos, a transmissão comunitária começou entre duas a quatro semanas antes dos primeiros casos importados serem detectados.
Em todos os países analisados (lista que também inclui China, Bélgica, França, Alemanha, Espanha e Reino Unido), a circulação do vírus começou antes das medidas de controle serem colocadas em prática.
A declaração da Fiocruz indica que suas pesquisas podem contribuir para a detecção precoce de novos surtos do coronavírus no futuro.
“Esse período bastante longo de transmissão comunitária oculta chama a atenção para o grande desafio de rastrear a disseminação do novo coronavírus e indica que as medidas de controle devem ser adotadas, pelo menos, assim que os primeiros casos importados forem detectados em uma nova região geográfica”, disse o pesquisador Gonzalo Bello, coordenador da pesquisa.
O estudo foi realizado pelo Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em parceria com a Fiocruz-Bahia, a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e a Universidade da República do Uruguai (UdelaR).