A confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil, um homem de 61 anos que contraiu a doença em uma viagem à Itália, causou preocupação em todo o País e o Ministério da Saúde precisou colocar em prática medidas de segurança que já vinham sendo estudadas desde janeiro, quando a epidemia surgiu na China. As autoridades sabiam que a chegada do vírus ao Brasil era uma questão de tempo. Outros 20 brasileiros são suspeitos de terem pego o novo vírus, dos quais 12 também passaram pela Itália. Em estado de atenção, o Brasil já pediu à Organização Mundial da Saúde (OMS) que declare a existência de uma pandemia — quando uma doença alastra-se pelo mundo.

PREVENÇÃO O uso de máscaras cirúrgicas passou a ser frequente em aeroportos e estações de Metrô em São Paulo (Crédito:DANIEL TEIXEIRA)

O brasileiro infectado pelo novo coronavírus mora em São Paulo e viajou para o norte da Itália entre 9 e 21 de fevereiro. Para voltar ao Brasil, o idoso embarcou no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, no dia 20, pela Air France, e pousou no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na sexta-feira 21. Durante a viagem, ele esteve, a trabalho, nas cidades de Verona e Turim, uma das regiões mais afetadas pela epidemia na Europa. Na chegada a São Paulo, ele se reuniu com cerca de 30 parentes na casa de um dos filhos no domingo 23 para uma confraternização no Carnaval. Uma neta do empresário chegou a apresentar sintomas da doença, mas as autoridades sanitárias apenas acompanham a evolução do caso e não confirmam se ela está contaminada pelo Covid-19, como foi denominado o novo vírus. No domingo à noite ele começou a sentir os sintomas do vírus, como febre, tosse seca, dor de garganta e coriza. Na segunda-feira, o homem procurou o Hospital Albert Einstein. Os médicos fizeram o teste, confirmando a moléstia. Na terça-feira 25, o Instituto Adolf Lutz fez a contraprova e não restou mais dúvidas: era o primeiro brasileiro a pegar a doença que abala o planeta. Entre os parentes, dois adultos e uma criança são de Vinhedo, na Grande São Paulo.

Agora, o paciente está confinado em seu apartamento, onde deverá ficar em quarentena por 14 dias. Ele está acompanhado apenas pela mulher, mas em ambientes separados. Ela não apresentou sintomas até agora. “O quadro do homem infectado está evoluindo muito bem”, disse Alberto Kanamura, secretário-executivo da Secretaria Estadual da Saúde. O empresário está sendo orientado a não compartilhar talheres com os demais membros da família e de ter as roupas lavadas e o lixo descartado separadamente. O quadro é leve e não inspira maiores cuidados, mas se houver complicações ele pode ser hospitalizado.

Todos os seus familiares também estão sendo monitorados pela vigilância sanitária, bem como 16 passageiros que voltaram com ele no avião e que estiveram nas fileiras à frente, ao lado e atrás dele. Algumas dessas pessoas já foram localizadas e procuraram médicos, mas nenhuma delas apresenta sintomas do coronavírus. O motorista de táxi que o levou do Aeroporto de Cumbica até sua residência já foi contatado, mas também não apresenta sinais da infecção. Segundo o Ministério da Saúde, cada infectado, em média, transmite a doença para outras três pessoas. Os exames de detecção da doença são feitos a partir da coleta de secreções da boca e nariz. Em caso de confirmação da presença do vírus, a contraprova é feita por quatro grandes laboratórios de referência instalados nas principais regiões do País.

Dólar dispara

A notícia da chegada do vírus ao Brasil acabou provocando pânico. As pessoas correram para as farmácias em busca de máscaras cirúrgicas e álcool gel, esgotando os produtos nas gôndolas. No mercado financeiro, a reação foi imediata. A bolsa despencou 7% só na última quarta-feira, um dia depois do anúncio da entrada do Covid-19 ao País. O dólar voltou a disparar, chegando a R$ 4,50 na quinta-feira 27, atingindo o maior valor nominal de fechamento já registrado. Na indústria, a dificuldade para conseguir peças vindas da China começa a paralisar linhas de produção. O vírus ameaça inclusive as perspectivas de crescimento da economia brasileira. Ao invés de um aumento de 2,5% do PIB, fala-se agora numa alta de no máximo 2%.