A paralisação das competições no Brasil devido à pandemia do novo coronavírus ameaça as finanças dos clubes de futebol, já confrontados a tensões salariais, a uma queda das receitas e à perspectiva da diminuição da renda com venda de jogadores para o futebol europeu.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) propôs adiar de maio para julho o início do Campeonato Brasileiro.

Esta mudança deve significar para os clubes “perdas de 18% da receita em relação ao faturamento do ano passado”, afirmou à AFP o economista Fernando Ferreira, sócio e fundador da consultora PLURI.

Os clubes sofrerão principalmente com “a redução das receitas com o Pay-Per-View (PPV), que terá menos clientes devido à crise econômica, e das receitas com sócio-torcedores”, continuou Ferreira, especialista em análise de mercado e marketing esportivo.

“Teremos provavelmente a pior janela de transferências dos últimos anos na Europa, porque, quando abrir, todos os clubes terão problemas financeiros, um problema econômico global e, logicamente, investimento em aquisição de jogadores não será prioridade”, explicou.

“Nos clubes brasileiros, cerca de 23% das receitas vêm da venda de jogadores. A demanda vai cair e, como os clubes terão problemas financeiros e irão precisar de dinheiro, eles tendem a aceitar propostas menos interessantes pelos jogadores”, analisou Ferreira.

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O economista alertou que os mais atingidos pela crise econômica serão os pequenos clubes estaduais, “que não têm calendário, só têm três meses de atividade por ano”.

“No Brasil temos 120 clubes disputando as quatro divisões nacionais, mas temos 530 clubes que só disputam os estaduais, e esses clubes têm uma possibilidade razoável de descontinuidade de suas operações por não ter dinheiro para suas atividades”.

– Corte salarial de 25% –

A Comissão Nacional de Clubes (CNC), que engloba as quatro divisões profissionais, sugeriu na semana passada uma redução dos salários de 25% para os jogadores, que em muitos casos já sofriam com atrasos salariais antes da crise do coronavírus.

Até o momento, somente o Atlético Mineiro decretou uma redução dos salários em seu elenco dessa magnitude. O sindicato que representa os jogadores recusou a proposta, alegando que fere a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

Para os principais clubes, o maior desafio é não atrasar o pagamento de salários, o que poderia significar perder os direitos sobre o jogador.

“Alguns clubes terão problemas seríssimos, clubes com problemas de caixa terríveis e que agora irão se agravar. Terão problemas para pagar e manter jogadores, porque vão atrasar salários e, na legislação, se atrasar por mais de 3 meses você perde o direito econômico sobre o jogador”, lembrou Ferreira.

De acordo com o especialista, clubes e jogadores terão que “colocar toda sua energia na renegociação dos salários dos jogadores e da comissão técnica, que geralmente consome cerca de 50% das despesas totais de um clube de futebol e é disparadamente a maior fonte de gastos de um clube”.

“Acredito que os clubes têm que ser mais agressivos, deixar a situação mais clara e visível, mas se a coisa ficar mais complicada a sociedade tem que saber que os jogadores não querem participar de um processo de ajuste. Agora é a hora em que todos cedem um pouco para sair desse buraco”, prevê Ferreira.

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