A ex-deputada venezuelana Maria Corina Machado, principal opositora do presidente Nicolás Maduro, fez sua primeira declaração pública após ser presa durante um protesto em Caracas e libertada horas depois, às vésperas da posse do chavista para um terceiro mandato no cargo.
“Maduro consolidou hoje um golpe de Estado“, afirmou a opositora, em vídeo publicado nesta sexta-feira, 10, em seu perfil no Instagram. No relato, Corina também detalhou como foi sua detenção.
Veja abaixo o vídeo:
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Principais pontos do pronunciamento
“Cada um dos venezuelanos que saiu às ruas para protestar representa o melhor do que somos. Apesar de uma força repressiva brutal, nós derrotamos o medo. Tenho profunda confiança de que a liberdade está cada vez mais perto“.
“Hoje, Maduro consolidou um golpe de Estado. Frente aos venezuelanos e ao mundo, eles decidiram cruzar a linha e pisotear a Constituição. Maduro tomou posse com respaldo dos ditadores de Cuba e da Nicarágua, o que diz muito“.
“Um grupo de motos com homens armados da Guarda Nacional Bolivariana nos cercou [no protesto] e efetuou vários disparos. Um funcionário perguntou meu nome e, imediatamente, pelas costas, fui brusca e fortemente levada a uma dessas motos. Assim são eles: atacam uma mulher pelas costas“.
“As declarações imediatas de líderes mundiais, de governos de várias partes do mundo, levaram eles [o governo venezuelano] a perceber o erro que foi me prender. Agora, precisamos fazer Maduro entender que isso acabou“.
“Nosso presidente eleito é Edmundo González Urrutia. No momento correto e sob as condições adequadas, ele voltará ao país para ser declarado presidente constitucional da Venezuela. Eu pedi que não fosse hoje [o retorno], porque sua integridade física é fundamental”.
A situação da oposição
A manifestação em que terminou detida representou a primeira aparição pública de Maria Corina Machado após meses de reclusão, período em que relatou sofrer perseguição do regime e “temer pela sua vida”.
O histórico de restrições à ex-deputada é conhecido na Venezuela. Fora do Legislativo desde que teve seu mandato cassado pela Mesa Diretora da Assembleia Nacional, a política liderava pesquisas de intenção de voto para concorrer contra Maduro nas eleições de 2024, mas teve os direitos políticos cassados por 15 anos pela Controladoria-Geral do país e acabou substituída por Edmundo González Urrutia, derrotado pelo chavista na disputa.
O governo venezuelano chamou as notícias da prisão de Corina de “distração da mídia”. “A tática de distração da mídia não é nova, portanto ninguém deve se surpreender. Menos ainda vindo de fascistas que são os arquitetos do engano. Há poucos minutos, a direita vendeu a ideia de que (Machado) havia sido atacada e detida por ‘motociclistas do regime’”, escreveu Freddy Ñáñez, ministro da Informação de Maduro.
Derrotado por Maduro na eleição, González Urrutia optou por uma estratégia já utilizada pela oposição ao chavismo e se autoproclamou presidente dias após o pleito. “Nós ganhamos essa eleição, sem dúvida alguma. Foi uma avalanche eleitoral, com uma organização cidadã admirável, pacífica, democrática e resultados irreversíveis”, escreveu em um comunicado no qual também pedia que o governo cessasse a repressão violenta aos protestos no país.
Nos meses seguintes, o político denunciou episódios de perseguição e prometeu seguir combatendo o regime. Com a escalada de violência contra manifestantes e lideranças, González se refugiou na embaixada espanhola em Caracas e, no mês de dezembro, conseguiu asilo na Espanha. “A posição do Estado espanhol, conforme estabelecido no documento do Conselho Europeu, no qual a organização pede a libertação de todos os presos políticos e exige que a Venezuela cumpra seus compromissos com o direito internacional”, afirmou na ocasião.
González permaneceu no asilo até os primeiros dias de 2025, quando foi à Argentina, ao Uruguai e, no domingo, 5, se reuniu com o presidente Joe Biden e Michael Waltz, futuro conselheiro de Segurança de Donald Trump, nos EUA. O político prometia retornar a seu país para a posse presidencial de Maduro, mas na terça-feira, 7, Rafael Tudares, genro de González, foi sequestrado quando levava os netos do opositor à escola e seu paradeiro ainda é desconhecido.