As duas Coreias ativaram nesta sexta-feira uma linha de telefone direta entre seus governantes, uma semana antes de uma reunião de cúpula entre o presidente sul-coreano Moon Jae-in e o líder norte-coreano Kim Jong Un na zona desmilitarizada que divide a península.

Esta linha conecta a Casa Azul (sede da presidência sul-coreana em Seul) com o gabinete em Pyongyang da Comissão e Assuntos de Estado, presidida pelo líder norte-coreano.

“A conexão histórica da linha direta entre os líderes das duas Coreias acaba de ser estabelecida”, afirmou Yoon Kun-young, alto funcionário da Casa Azul. Uma conversa de teste entre operadores teve duração de quatro minutos e 19 segundos.

“A conexão é boa. É como falar com um vizinho”, disse.

A península coreana está dividida há 70 anos. Desde o fim da guerra (1950-1953) nenhuma comunicação telefônica ou postal é permitida entre os cidadãos dos dois países.

Esta linha, que permitirá a Kim e Moon conversar diretamente, é o capítulo mais recente que ilustra a aproximação diplomática entre os dois vizinhos desde os Jogos Olímpicos de Inverno organizados em fevereiro pelo Sul.

Os dirigentes das duas Coreias se reunirão na próxima sexta-feira no lado sul da zona desmilitarizada. Será o terceiro encontro de cúpula entre os países desde o fim da Coreia (1950-53).

– Trump –

O conflito bélico terminou com um armistício e não um tratado de paz, o que significa que os dois lados permanecem, tecnicamente, em guerra.

Moon afirmou na quinta-feira que deseja uma declaração oficial do fim da guerra como etapa inicial de um tratado.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que deve se reunir com Kim Jong Un em maio, aprovou que as duas partes negociem este tipo de acordo.

Mas tudo dependerá dos programas balístico e nuclear norte-coreanos.

O Norte, que no ano passado disparou mísseis intercontinentais com capacidade de atingir o território continental dos Estados Unidos e realizou seu maior teste nuclear até o momento, sempre afirmou que precisa da arma atômica para proteger-se de uma invasão americana.

Pyongyang se mostrou, desde então, disposta a negociar sobre o tema em troca de garantias a sua segurança. Mas a frase utilizada à vezes, “desnuclearização da península”, designa na realidade a retirada das tropas americanas da Coreia do Sul e o fim da proteção oferecida pelo guarda-chuva nuclear de Washington, aliado de Seul.

Mas para Washington isto é impensável. O governo dos Estados Unidos insiste que busca a desnuclearização total, verificável e e irreversível da Coreia do Norte.

Trump advertiu esta semana que a reunião de cúpula com o Norte pode ser cancelada.

– ‘Nova etapa’ –

“Se considera que esta reunião não será frutífera, não iremos. Se a reunião, quando estiver lá, não for frutífera, a abandonarei, respeitosamente”, afirmou o presidente americano.

Moon explicou que Norte destacou sua “disposição para uma desnuclearização total” sem exigir a retirada das tropas americanas.

“Só falam de garantias de segurança”, disse, antes de acrescentar que “o diabo está nos detalhes”.

“É muito cedo para garantir o êxito do diálogo, que só acontecerá depois de uma reunião de cúpula Estados Unidos-Coreia do Norte de sucesso”, advertiu.

Pyongyang opta pela discrição e até a semana passada não havia sequer mencionado os contatos com Washington.

A agência oficial KCNA não cita há mais de um mês as capacidades nucleares da Coreia do Norte.

O Partido dos Trabalhadores, partido único, se reuniu nesta sexta-feira em sessão plenária para discutir uma “nova etapa em um período histórico importante da revolução coreana em curso”.

Analistas, no entanto, consideram pouco provável que o país anuncie neste momento diretrizes claras sobre eventuais mudanças de política.

A linha direta instalada nesta sexta-feira não é a única conexão entre Norte e Sul. Em janeiro foi restabelecida, após dois anos, de interrupção, uma linha de comunicação militar.