O líder de uma seita sul-coreana foi condenado nesta quinta-feira (22) a 15 anos de prisão por estuprar oito mulheres, incluindo algumas que o consideravam Deus.

As vítimas do pastor Lee Jaerock “eram incapazes de opor resistência, pois estavam submetidas à autoridade religiosa absoluta do acusado”, afirmou o juiz Chung Moon-sung no tribunal do distrito central de Seul.

A devoção religiosa pode ser muito intensa na Coreia do Sul, onde 44% dos habitantes se declaram fiéis.

A maioria dos fiéis está vinculada a Igrejas reconhecidas, com frequência ricas e poderosas, frequentadas por dezenas de milhares de fiéis que não hesitam em doar até 10% de seus salários.

Mas o país também possui muitas igrejas à margem, algumas delas envolvidas em casos de fraude, coação, “lavagem cerebral”, manipulação dos frequentadores e outras práticas sectárias.

Lee Jaerock fundou a igreja de Manmin, de inspiração protestante, em Guro, bairro pobre de Seul, em 1982. Começou com 12 fiéis, mas atualmente sua congregação afirma ter 130.000 fiéis.

A igreja tem uma grande sede, um auditório luxuoso, e o site oficial destaca o grande número de milagres em seu templo.

Após as revelações do movimento #MeToo, que também atingiu a Coreia do Sul, três fiéis denunciaram este ano o líder religioso, que as convocou para sua casa e as forçou a manter relações sexuais.

“Não fui capaz de resistir a ele. Era mais que um rei. Ele era Deus”, afirmou uma vítima, integrante da igreja desde a infância, em uma entrevista a um canal de TV.

O pastor disse a outra vítima que ela estava no paraíso e deveria ficar nua, como Adão e Eva no Jardim do Éden. “Chorei porque odiava fazer isto”, declarou.

Oito mulheres denunciaram o pastor, e o tribunal o declarou culpado por dezenas de estupros durante um longo período.

“Em seus sermões, o acusado sugeriu, direta ou indiretamente, que era o Espírito Santo”, destacou o juiz. E as vítimas pensavam que ele “era um ser divino com poderes divinos”, completou.

Lee Jaerock, que nega as acusações, escutou o veredicto com os olhos fechados e não mostrou qualquer emoção diante de mais de 100 fiéis que assistiram ao julgamento.

O advogado do pastor acusou as denunciantes de mentir como forma de vingança depois que foram expulsas por terem violado as regras da igreja.

“A igreja central de Manmin se concentra na adoração do pastor Lee Jaerock”, afirmou Kim Yu-sun, que foi membro da igreja por 20 anos.

“Agora que frequento uma igreja diferente, venero Jesus e rezo para Deus. Sou feliz”, completou.

A Coreia do Sul é um terreno fértil para os grupos religiosos com ideologias fortes, que oferecem esperança de salvação a pessoas pressionadas por uma sociedade ultracompetitiva, na qual o status é tudo.

De acordo com um estudo governamental de 2015, 28% dos sul-coreanos afirmam pertencer a uma igreja cristã, e 16% se apresentam como budistas.

Segundo o diretor do Instituto Coreano de Pesquisas sobre a Herança Cristã, Park Hyung-tak, dois milhões de pessoas pertencem a seitas.

“O país tem 60 líderes de seitas que alegam representar a segunda vinda de Cristo, ou inclusive o próprio Deus”, explica à AFP.