O famoso bairro de Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, se transformou nestes dias no centro das atenções do país devido a um aumento considerável da criminalidade e a criação de grupos de moradores “justiceiros”, que mobilizaram as autoridades.

Alguns casos estamparam manchetes nos jornais: um turista que estava na cidade para o show de Taylor Swift foi assassinado a facadas na praia; outro homem ficou inconsciente após ser brutalmente atacado em um assalto, e uma jovem foi estuprada por um homem em situação de rua.

Como consequência, grupos de moradores se organizaram e saíram às ruas com tacos, socos-ingleses e outras armas em uma caçada a supostos delinquentes.

Vídeos virais mostram jovens vestidos com roupas pretas e os rostos cobertos patrulhando o bairro e agredindo violentamente quem eles acusavam de cometer crimes.

Em um país profundamente desigual, os “justiceiros” também foram acusados de racismo na hora de apontar “suspeitos”.

– Divisão –

A situação expôs a polarização de um Brasil ainda dividido após as eleições do ano passado entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o atual Luiz Inácio Lula da Silva, que venceu com uma margem muito pequena e enfrenta acusações do campo conservador de ser brando com a criminalidade.

No Rio, contudo, a criminalidade não é uma novidade, tampouco as reações violentas como resposta.

Há cinco anos, o então presidente Michel Temer decretou uma intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, colocando as forças armadas no comando das polícias durante 10 meses, ao afirmar que o crime organizado tinha se tornado um “câncer” no estado.

Há décadas a cidade também é cenário frequente de violentos embates entre facções criminosas fortemente armadas e policias nas comunidades e periferias.

Também tem enfrentado o poder crescente das milícias, que inicialmente se formaram como grupos paramilitares de moradores para combater o crime e evoluíram para autênticas máfias organizadas.

Mas a última explosão de violência em Copacabana está afetando a identidade de um bairro conhecido por seu ambiente praiano e despojado, onde é comum ver moradores transitando com trajes de banho e sandálias de dedo.

“Copacabana está triste”, disse o empresário Thiago Nogueira, de 42 anos. “Estou sentindo que está bem forte a violência. Está piorando muito”, comentou à AFP.

As empresas locais também estão preocupadas com os impactos no turismo, especialmente com a chegada das festas de Fim de Ano.

O presidente da associação hoteleira HoteisRio defende punições mais severas para deter os criminosos reincidentes.

– ‘O sistema está colapsado’ –

Os roubos em Copacabana cresceram 25% este ano em comparação com o mesmo período do ano passado, e os furtos a pedestres subiram 56%, segundo o site de notícias G1, que cita dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ).

As autoridades anunciaram a mobilização de 1.000 policiais e um “cordão de segurança” durante a noite e nos fins de semana.

Também haverá aumento da visibilidade das patrulhas e do número de abordagens policiais para combater a violência. Ademais, as autoridades pedem aos moradores que deixem a segurança nas mãos da polícia.

Os “justiceiros” cometem “crimes com o objetivo de evitar crimes. Na verdade, são todos eles criminosos”, disse Victor Santos, secretário de Segurança do estado do Rio, um cargo recriado no mês passado pelo governador Cláudio Castro para lidar com o aumento da criminalidade.

A insatisfação dos moradores se vê alimentada pela sensação de que o sistema de justiça não funciona.

Dois dos suspeitos pela morte do fã de Taylor Swift, de 25 anos, em 19 de novembro, tinham sido presos no dia anterior por roubar chocolate em um mercado, informou a imprensa local.

A eles foi concedida a liberdade condicional na audiência de custódia. No total, os três suspeitos detidos neste caso já foram abordados por policiais 108 vezes.

Além disso, o assaltante que deixou um homem inconsciente na calçada no dia 2 de dezembro é um “antigo conhecido das autoridades, com nove passagens pelo sistema”, afirmou na quinta-feira a delegada que investiga o caso.

“O sistema está colapsado”, escreveu o jornalista Octávio Guedes em uma coluna para o G1.

“Quando é fixado na mente da população a mensagem de que a polícia prende e a Justiça solta, abre-se a oportunidade de surgimento de outro tipo de barbaridade, que são esses grupos de justiceiros”, acrescentou.

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