22/06/2018 - 18:00
O roteirista dessa Copa do Mundo está de brincadeira com a gente.
Sério.
Só não vê quem não quer.
Porque se você prestar atenção nos detalhes e nas armadilhas do destino, vai perceber que a presença da nossa Seleção na Copa da Rússia é um amontoado de metáforas perfeitas para o Brasil de hoje.
Duvida?
Então, confira comigo no replay.
Chegamos à Copa vindos de uma derrota monumental, histórica, única e vergonhosa contra a Alemanha.
A derrota cujo placar não deve ser lembrado.
Derrota que, convenhamos, é a versão futebolística da derrota política, institucional, que foi assistir a uma presidente ser sacada de seu cargo.
O governo PT, que chamou para si a responsabilidade de trazer a última Copa para o Brasil, no final teve que amargar o 7 a 1 da Alemanha.
O mesmo PT que durante décadas lutou para chegar ao poder foi obrigado a sair com o rabão entre as pernas.
Logo, chegamos à Copa da Rússia sob os olhares desconfiados do mundo.
Já teria dado tempo de dar a volta por cima e sacudir a poeira do fiasco?
Escrutínio não muito diferente do que aquele que nós brasileiros e o mundo lá fora ofertamos a Temer quando assumiu a Presidência.
Seria capaz de recuperar a credibilidade do País?
Aí tem o Neymar.
Neymar chegou na Copa se recuperando de uma fratura.
Uma fratura muito menos grave, é verdade, do que a que o Brasil está tentando desesperadamente se recuperar.
O impeachment (ou o golpe, se for essa a sua interpretação) deixou o País engessado física e espiritualmente.
Mas a verdade é que estão, ambos, se recuperando de uma fratura, o que os coloca numa posição insegura.
Neymar não vai dividir bola com ninguém, com medo de uma nova contusão que o tire da Copa.
Temer, esperto, entuchou uma intervenção no Rio de Janeiro que é para não precisar colocar sua canela no caminho de um vexame no Congresso, ao não aprovar a Reforma da Previdência.
Um, ferido pelos adversários em suas batalhas no campo; outro, espancado por suas próprias trapalhadas nas batalhas de campo.
Mas calma. Ainda não acabou.
A chegada de Tite à Seleção se deu depois de uma sequência desastrosa de técnicos.
Temer entrou no lugar de uma sequência desastrosa de presidentes.
Ok! Você pode dizer que Tite não tem nada a ver com os técnicos anteriores, enquanto Temer tem relação visceral com os governos passados.
Tem razão.
Mas vou fingir que não ouvi isso para não estragar o texto.
O fato é que, nos dois casos, nossas esperanças e desconfianças são colocadas sobre dois profissionais experientes em seus campos de atuação.
Do seu lado, Tite tem um longo currículo de sucesso com conquistas históricas em torneios tão importantes quanto o mundial de clubes.
Temer, por sua vez, tem um longo currículo que comprova que é um histórico negociador. Habilidade que ao longo de sua vida política usou para o bem e para o mal.
E a arbitragem?
Todo mundo meteu o pau na atuação do juiz mexicano em nosso jogo contra a Suíça.
Alegam que ele não marcou a falta no gol suíço e que não foi mais enérgico nas inúmeras faltas que o Neymar sofreu.
Um juiz que deixa o jogo correr.
Que não pune como gostaríamos.
Que ignora faltas graves.
Lembrou de alguém?
Metáforas! Essa é a Copa das metáforas.
Treinadores, jogadores, árbitros, tudo na Copa lembra o Brasil.
E, para coroar, Lula está comentando os jogos.
Um ex-presidente, preso, comentando os jogos da Copa da Rússia.
Aí é demais. Desisto.
É metáfora demais para mim.