Não é de hoje que a organização do futebol brasileiro é alvo de críticas por causa do inchado calendário, com poucas pausas e um número de jogos que pouco se compara a outros países. Se em 2023 a “densidade competitiva”, como diz o técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, é um empecilho para os clubes, nada se compara à próxima temporada, em que haverá as disputas de Copa América e Olimpíada.

Os anos de 2021 e 2016 foram os dois últimos em que Copa América e Olimpíada precisaram coexistir no calendário de competições elaborado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Para 2024, há importantes diferenças a serem ressaltadas.

Em 2016, com os Jogos do Rio e a Copa América Centenário, nos EUA, a CBF não pôde pausar o futebol nacional nas Datas Fifa do primeiro semestre e também durante a realização dos dois torneios. No segundo semestre, com partidas das Eliminatórias da Copa da Rússia, foi montado, nos meses de setembro e novembro, esquema semelhante ao atual, em que não há jogos do Brasileirão durante a Data Fifa (dez dias), mas o campeonato é retomado no dia seguinte a que se encerra o período, restando pouco tempo de recuperação para os convocados e inviabilizando muitas vezes suas participações em campo pelo clube que defendem.

À época, havia ainda outros problemas para o calendário: os campeonatos estaduais tinham 19 datas, três a mais que o número atual; a Libertadores não durava o ano todo e tinha final em dois jogos no mês de julho, enquanto a Sul-Americana começava no segundo semestre e também definia seu campeão em duas partidas. Apesar de não haver garantia de participação de times brasileiros nessas finais, é sempre importante ter essas datas em conta para não causar sobreposição de jogos.

Em 2021, o cenário foi ainda mais complicado, pois envolveu a pandemia de covid-19, que adiou o início da temporada para março e ainda contou com uma breve paralisação durante os Estaduais. Na ocasião, foi impossível fazer qualquer pausa para a realização dos jogos da seleção brasileira na Olimpíada e na Copa América.

2024 REFORÇARÁ DISCUSSÕES SOBRE REMODELAMENTO DO CALENDÁRIO

Para 2024, a CBF fará uma esforço para preservar as Datas Fifa (cinco, que ocupam 15 datas no calendário) e não causar grandes prejuízos aos clubes. Em um cenário ideal, também seria necessária a interrupção do calendário nacional para a celebração da Copa América – que novamente será nos EUA, entre 20 de junho e 14 de julho – e dos Jogos Olímpicos de Paris – que acontecem entre 24 de julho e 11 de agosto, mas não contam como Data Fifa e tampouco obrigam os clubes a ceder atletas.

O Brasil é atual bicampeão olímpico e terá de negociar com clubes brasileiros e estrangeiros para montar um forte time sob o comando de Ramon Menezes para subir novamente no lugar mais alto do pódio. Mas novamente o calendário do futebol nacional pode prejudicar as várias partes: seleção brasileira, clubes e a própria imagem das competições da CBF, que podem ficar esvaziadas.

CLUBE PAULISTA PODE FAZER ATÉ 83 JOGOS NA TEMPORADA

Mantidos os números de datas reservadas para competições no País, teremos espaços exclusivos para Estaduais (16 datas), Brasileirão (38), Pré-Libertadores e fases 1 e 2 da Copa do Brasil (4), Libertadores e Sul-Americana (14) e demais fases da Copa do Brasil (10). Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana e finais de Libertadores e Sul-Americana são colocadas em datas coincidentes, pois não há garantia de participação brasileira. Quando há, o time tem de realocar seus jogos em possíveis datas vagas. Apenas eliminações precoces “ajudam” nesse cenário.

Como se nota, a montagem de um calendário é um jogo de xadrez, dos desafios lógicos mais complexos. Um time paulista de Série A, que dispute a Libertadores e tenha sido campeão continental e nacional no ano anterior, pode ter de fazer em um ano até 82 jogos se chegar à decisão de todos os torneios.

Em outra hipótese, um time paulista que passe pela pré-Libertadores e depois seja eliminado na fase de grupos, tendo de disputar os playoffs da Sul-Americana, chegando à final e também à decisão da Copa do Brasil, poderia somar 83 partidas.

Confira o número total de datas que cada competição necessita:

Estadual: 16 jogos*

Brasileirão: 38 jogos

Libertadores: 13 a 17 jogos/ Sul-Americana: 13 a 15 jogos

Copa do Brasil: 10 a 12 jogos

Mundial de Clubes: 2 jogos

Supercopa do Brasil: 1 jogo

Recopa Sul-Americana: 2 jogos

*Apesar da CBF disponibilizar 16 datas, apenas São Paulo ocupou todas em 2023 entre os principais polos. Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul realizaram um máximo de 15 partidas, e Minas Gerais, 12.

Europeus x brasileiros(jogos por temporada dos últimos campeões nacionais):

Palmeiras (Brasil): 74

Manchester City (Inglaterra): 61

Barcelona (Espanha): 53

Paris Saint Germain (França): 50

Bayern de Munique (Alemanha): 49

Napoli (Itália): 49

JOGOS DA SELEÇÃO BRASILEIRA VÃO FAZER CBF TER DE ESCOLHER QUAL TORNEIO ‘PREJUDICAR’

A Copa América, somada à Data Fifa de junho, ocupará 12 datas do calendário, enquanto a Olimpíada, seis. Não seria lógico a seleção brasileira “devolver” os atletas para seus clubes entre 11 e 20 de junho, intervalo entre o fim da Data Fifa e o início da Copa América, mas diante da necessidade, é uma opção a se considerar.

Se mantida a formatação de 2023, com o futebol brasileiro profissional começando em 14 de janeiro e terminando em 1.º de dezembro, há um total de 93 datas disponíveis, tendo a CBF 82 datas já preenchidas com eventos. Restam 11 espaços livres ante 30 “necessários” para as partidas da seleção brasileira. Ou seja, para que todas as competições coubessem no calendário sem maiores prejuízos, seriam necessárias mais 10 semanas (equivalente a um ano de pouco mais de 13 meses, começando a temporada em 15 de janeiro de 2024 e terminando em 05 de fevereiro de 2025, contando 30 dias de férias e 15 dias de pré-temporada).

Caso siga os parâmetros dos últimos anos, é mais provável que a CBF promova Datas Fifa coincidentes com Estaduais. Assim, as 11 datas ainda estariam livres para serem usadas no restante do ano, parcialmente em outras Datas Fifa e na Copa América. Ainda desse modo, em algumas ocasiões os clubes brasileiros terão de jogar desfalcados. O calendário de 2024 da CBF deve ser divulgado entre os meses de agosto e setembro, mas não há muito para onde correr a fim de encontrar raras soluções unânimes para desinchar o calendário.