A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP29, começou nesta segunda-feira (11), em Baku, capital do Azerbaijão, país cuja economia é calcada na exploração de combustíveis fósseis.

A um ano de desembarcar em Belém, na Amazônia brasileira, a cúpula tem como principal objetivo definir o mecanismo que substituirá o fundo de US$ 100 bilhões por ano para países em desenvolvimento, que nunca deslanchou.

“O financiamento das ajudas climáticas por parte dos países ricos não é caridade”, alertou o chefe da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), Simon Stiell, em seu discurso na abertura da COP29.

“Um novo ambicioso objetivo de finanças para o clima é do interesse de cada país, incluindo os maiores e mais ricos”, acrescentou. A COP29 deve demonstrar que a cooperação mundial “não está em ponto morto”, declarou o secretário executivo.

As nações emergentes cobram dinheiro dos países ricos para se adaptar à crise climática ao mesmo tempo em que desenvolvem suas economias, com o argumento de que o Norte Global alcançou seu status atual ao custo da poluição que causou o aquecimento global.

No entanto, analistas acreditam que a COP29 pode ser pouco relevante, tendo em vista que na COP30, em Belém, os países apresentarão suas novas metas de descarbonização, além da incerteza sobre políticas climáticas representada pelo retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.

Enquanto isso, as emissões de gases do efeito estufa seguem batendo recorde, e 2024 caminha a passos largos para se tornar o ano mais quente já registrado pela humanidade. “Aqueles que tentam desesperadamente retardar e negar o inevitável fim da era dos combustíveis fósseis perderão. A economia está contra eles”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Meses de negociações

A COP29 termina oficialmente na sexta-feira, 22 de novembro.

Em 2009, na COP15 de Copenhague, um acordo estabeleceu que os países industrializados concederiam 100 bilhões de dólares (576 bilhões de reais na cotação atual) por ano, em ajuda direta ou empréstimos multilaterais.

O volume de ajuda foi alcançado com dois anos de atraso, em 2022, e agora os especialistas afirmam que é necessária uma quantia pelo menos 10 vezes superior.

A ajuda deve servir tanto para mitigar a emissão de gases do efeito estufa, principalmente por meio de uma gigantesca conversão energética mundial, assim como com a adaptação, ou seja, a construção de barragens, a adaptação das residências às temperaturas extremas, entre outras medidas.

Uma região como a América Latina emite menos de 10% de gases do efeito estufa, mas é uma das que mais sofre impacto com o aquecimento do planeta.

As divergências são profundas e as negociações sobre a agenda forçaram uma pausa já nesta segunda-feira, segundo os correspondentes da AFP.

Além do valor da ajuda e do calendário, as nações devem chegar a um acordo sobre quem paga. Em 2009, pouco mais de 30 países assumiram a missão dos 100 bilhões de dólares. E a China ficou de fora.

Agora, União Europeia e Estados Unidos, entre outros, querem que Pequim assuma parte da conta, o que promete ser difícil. A China, principal emissora de gases do efeito estufa, tem sua própria agenda de ajuda climática. Além disso, o país domina grandes setores da conversão de energia, como os metais raros.

Países petroleiros e anfitriões

No ano passado, em Dubai, os países conseguiram um acordo com muitas dificuldades para uma declaração final da COP28. O texto assumia, pela primeira vez, que os países deveriam empreender uma “transição” para o fim das energias fósseis.

Mas a Agência Internacional de Energia (AIE) recordou em seu relatório anual mais recente que 80% da energia mundial ainda provém dessas fontes (carvão, petróleo, gás).

Após a abertura, a COP reúne todos os anos os líderes mundiais por dois dias.

Mas a COP29 não tem as presenças dos grandes protagonistas do diálogo climático: os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Emmanuel Macron.

O ambiente de austeridade orçamentária nos países ricos, as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio e o resultado das eleições americanas ofuscam as perspectivas diplomáticas.

“As ambições do Acordo de Paris estão em grave perigo”, alertou a Organização Meteorológica Mundial (OMM).