Após um dia conturbado, a COP29 iniciou sua sessão de encerramento na noite deste sábado (23), em Baku, onde países em desenvolvimento exigiram que as nações ricas contribuam com mais dinheiro para enfrentar o aquecimento global.

Antes de entrar em cheio no tema, os participantes desta conferência da ONU sobre as mudanças climáticas aprovaram previamente uma série de pontos validados, como as normas que vão regular as transações de créditos de carbono entre países.

O presidente da reunião, Mujtar Babayev, anunciou em seguida um recesso nesta que deve ser uma longa noite.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, fez alusão a negociações “dolorosas”, que atribuiu a uma falta de “liderança central”.

“Não é só uma questão da presidência, todos os que estamos aqui somos responsáveis”, disse a ministra, a um ano de o Brasil sediar a COP30 em Belém do Pará.

Os negociadores dos pequenos Estados insulares (Aosis) e países mais pobres do planeta, descontentes com o projeto de acordo apresentado a portas fechadas, se retiraram à tarde de uma reunião com a presidência azeri da COP29.

“Não fomos […] Consideramos que não fomos ouvidos”, disse Cedric Schuster, enviado de Samoa, em nome da Aosis, embora a aliança tenha detalhado que continuava “comprometida” com o processo de negociação.

O principal obstáculo consiste no grau de compromisso que os países ricos, historicamente mais contaminantes e, consequentemente, os maiores responsáveis pelas mudanças climáticas, estão dispostos a assumir.

A sessão plenária deve ser retomada na madrugada de domingo.

O projeto de acordo “foi escrito mais uma vez pelas costas de muitos países […], não só foram cruzadas muitas das nossas linhas vermelhas, mas literalmente foram pisoteadas, por isso estou contrariado”, disse o chefe das negociações do Panamá, Juan Caarlos Monterrey.

A conferência estava prevista para terminar na tarde de sexta-feira. Porém, na ausência de consenso, as negociações prosseguiram no estádio da capital do Azerbaijão, onde os funcionários já começaram a retirar os móveis e as decorações.

As partes nas negociações tentam estabelecer como financiar a ajuda climática aos países em desenvolvimento para construir centrais solares, investir na irrigação e proteger as cidades contra inundações.

“Espero uma [proposta] de ‘pegar ou largar'”, disse à AFP a negociadora alemã, Jennifer Morgan.

– “Não é suficiente” –

Os países mais pobres também exigem que 30% do financiamento climático lhes seja atribuído.

Este também seria um ponto de discórdia: “há muita resistência por parte de outros países em desenvolvimento”, disse Kevin Conrad, da Coalition for Rainforest Nations.

Pela manhã, a União Europeia propôs aumentar a contribuição dos países ricos para 300 bilhões de dólares (1,7 trilhão de reais) anuais, depois de na véspera a presidência do Azerbaijão ter apresentado uma proposta de acordo que incluía uma contribuição de 250 bilhões de dólares (1,4 trilhão de reais) anuais, algo que os países do Sul Global consideraram “inaceitável.”

Na sexta-feira, Marina Silva já havia exigido esse valor.

Os países em desenvolvimento calculam que, com a inflação, o esforço financeiro real dos países que prestam esta ajuda (os europeus, os Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia) seria muito menor, ainda mais com os esforços já previstos por bancos multilaterais de desenvolvimento.

“Há um grande problema com os 300 bilhões [de dólares] porque não são suficientes para cobrir todas as necessidades”, disse o panamenho Monterrey, indicando que “o mundo em desenvolvimento fez uma contraproposta: 500 bilhões (2,9 trilhões de reais) para 2030”.

A ministra colombiana do Meio Ambiente, Susana Muhamad, encorajou “o norte a redobrar” a sua proposta.

– “Jogo de poder” –

O projeto de acordo estabelece separadamente o ambicioso objetivo de obter um total de 1,3 trilhão de dólares (7,5 trilhões de reais) por ano até 2035 para os países em desenvolvimento, o que incluiria a contribuição dos países ricos e outras fontes de financiamento, tais como fundos privados ou novas taxas.

Paralelamente, os países ricos negociam medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas enfrentam a oposição dos produtores de petróleo, como a Arábia Saudita. O grupo de Estados árabes alertou que rejeitará qualquer texto “que aponte contra as energias fósseis”.

“Estamos em meio a um jogo de poder geopolítico entre alguns Estados produtores de combustíveis fósseis”, denunciou a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock.

“Me preocupa que na madrugada de domingo muitas delegações vão embora porque não podem mais ficar”, disse à AFP Irene Rubiera, da área jurídica dos Ecologistas em Ação. “Se estas delegações começarem a ir embora e perderem o quórum, a quantidade de gente necessária para considerar a reunião válida, será extraordinariamente problemático”, alertou.

“A solução tem que sair agora, este é um tema que já foi adiado por vários anos, este é o momento”, afirmou o chefe das negociações da Bolívia, Diego Pacheco.

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