O futuro dos combustíveis fósseis dominou as discussões da COP28 nesta sexta-feira (8) em Dubai, onde a Opep pediu para seus membros se oporem a qualquer menção crítica a essas fontes de energia na declaração final da Conferência.

A COP28, nas palavras do presidente da cúpula, o emiradense Sultan al Jaber, pode ser “a que mude as regras do jogo”, e o poderoso cartel petroleiro, de 13 membros e uma dezena de aliados, pareceu compreender isso e o considerou como um risco.

“A pressão indevida e desproporcional contra os combustíveis fósseis pode alcançar um ponto de inflexão com consequências irreversíveis”, advertiu o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Haitham Al Ghais, em uma carta enviada aos países-membros.

“O projeto de decisão ainda contém opções para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis”, destacou Al Ghais em sua mensagem, enviada na quarta-feira.

A COP28 avalia o balanço da luta contra a mudança climática desde 2015, quando o Acordo de Paris foi assinado. O tratado fixou como objetivo limitar o aquecimento global a 2°C, e no possível a 1,5°C, em relação aos níveis da era pré-industrial.

Os climatologistas concordam ao dizer que o mundo deve abandonar o quanto antes os combustíveis fósseis, caso pretenda reduzir as emissões de gases de efeito estufa para limitar o aquecimento global.

Um novo rascunho da declaração final da COP28, de 27 páginas, foi publicado ao longo do dia, com diversas opções sobre o que fazer com o petróleo, o gás e o carvão.

“Abandonar” ou “reduzir” o uso dessas fontes de energia é o dilema para a declaração final, que os ministros devem apresentar na próxima terça-feira (12).

Também existe uma terceira opção polêmica, a de não mencionar em absoluto os combustíveis fósseis.

“Esse último rascunho mostra que nunca estivemos tão perto de um abandono dos combustíveis fósseis. Mas como essa transição se dará será uma áspera batalha nos próximos dias”, explicou Romain Ioulalen, da Oil Change International.

Os combustíveis fósseis exerceram um papel crucial no desenvolvimento dos países ricos e também na concentração de CO2 na atmosfera que está acelerando o aquecimento do planeta.

Atualmente, muitos países em desenvolvimento, com importantes reservas de hidrocarbonetos, também veem com preocupação sua eliminação.

“Embora os países-membros” e seus associados “levem a sério a mudança climática (…) seria inaceitável que campanhas com motivações políticas ponham em perigo a prosperidade e o futuro de nossos povos”, continua a carta da Opep.

– Terminar o trabalho –

“Vamos, por favor, concluir este trabalho”, pediu Al Jaber aos quase 200 países presentes em Dubai.

As decisões devem ser adotadas por consenso nas conferências das partes (COP) da ONU.

“Os olhares estão sobre a presidência”, advertiu Andreas Sieber, da ONG 350.org.

Jaber distribuiu as tarefas até terça-feira em quatro grupos de trabalho, copresididos por dois ministros de países, que receberão as sugestões dos participantes.

– China e EUA entram no jogo –

“Precisamos prestar atenção sempre no que os grandes protagonistas estão discutindo”, declarou Jennifer Allan, especialista em negociações climáticas do Earth Negotiations Bulletin.

Em Dubai, as relações entre Estados Unidos e a China dominam boa parte do ambiente de negociações. A União Europeia demonstra uma postura ambiciosa na maioria dos temas.

Autoridades da China e dos Estados Unidos se reuniram no mês passado e concordaram que “é necessário acelerar a implementação das energias renováveis para dar mais velocidade à substituição da produção de energia elétrica a partir do carvão, do petróleo e do gás”.

Isto significa que a declaração da COP28 poderia vincular o destino dos combustíveis fósseis ao aumento da produção de energia com fontes renováveis.

E isto passaria por triplicar a capacidade instalada de energias renováveis até 2030, assim como duplicar a eficiência energética.

“Temos que ser justos. Temos que ser equitativos. Temos que ser ordenados e responsáveis na transição energética”, declarou Al Jaber.

Uma das metas do Acordo de Paris de 2015 é alcançar a neutralidade zero de emissões de gases do efeito estufa até 2050.

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