A COP28, que começa nesta quinta-feira (30) em Dubai, deve assumir o compromisso com uma verdadeira “eliminação” das energias fósseis, afirmou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em uma entrevista à AFP na qual denunciou a “falta de vontade política” para evitar a “catástrofe” climática.

“Obviamente, sou totalmente a favor de um texto que inclua a ‘eliminação’ (dos combustíveis fósseis), mesmo que em um calendário razoável”, declarou antes de viajar para Dubai, onde se espera uma batalha sobre os combustíveis fósseis durante as duas semanas da reunião, crucial para o clima e o futuro da vida no planeta.

Como as ações dos países estão muito distantes da meta mais ambiciosa do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a um aumento da temperatura de 1,5ºC, algumas nações desejam que o documento final da COP28, que deve ser adotado por consenso, mencione de maneira explícita a redução do uso dos combustíveis fósseis, que representam a principal causa do aquecimento global.

Nenhuma COP conseguiu esta menção até hoje. Na reunião de Glasgow, em 2021, o documento final mencionou apenas o carvão.

Para Guterres, muito empenhado no combate às mudanças climáticas, a simples promessa de redução do uso dos combustíveis não é suficiente.

“Penso que seria uma pena se nos limitássemos a uma ‘redução’ vaga e evasiva, cujo verdadeiro significado não seria óbvio para ninguém, disse.

“Uma redução pode significar qualquer coisa. Nunca se sabe exatamente o que significa. Eliminação significa que, em algum momento, paramos, mesmo que não possamos fazer isto amanhã”, explicou, antes de fazer um apelo para que a eliminação total aconteça de “forma organizada”, com um calendário confiável alinhado com o objetivo de +1,5°C.

Tendo como pano de fundo a polêmica que afeta o presidente da COP28, Sultan Ahmed Al Jaber, que também é o CEO da empresa de petróleo nacional Adnoc, devido ao conflito de interesses, Guterres pediu que ele aproveite a situação para convencer o mundo da necessidade de abandonar as energias poluentes.

Ele está em “melhor posição para dizer à indústria petrolífera que a “solução dos problemas climáticos exige a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis do que se fosse membro de uma ONG com resultados sólidos a favor del clima”.

– “Triplicar as energias renováveis” –

“Isto lhe permitiria deixar argumentos os que o criticam e estar na linha de frente dos esforços para criar as condições de um calendário adequado para a eliminação das energias fósseis”, acrescentou, antes de destacar que considera “inconcebível” que o dirigente dos Emirados Árabes Unidos tenha utilizado a função de presidente da COP28 para promover projetos de petróleo e energia de seu país.

Outra questão crucial da COP28 é o desenvolvimento das energias renováveis.

“Devemos triplicar as renováveis a nível global” e não depender apenas dos compromissos voluntários de alguns Estados, afirmou Guterres.

Neste sentido, ele espera que a COP28 permita “avançar” na ideia de um grande programa mundial de investimentos na África, um continente que vive um cenário “absurdo, com 60% da capacidade solar, mas apenas 2% dos investimentos”.

“Muitas medidas são essenciais para fazer desta COP um sucesso”, acrescentou, antes de mencionar a “justiça climática” em particular.

A COP27, realizada no Egito no ano passado, permitiu um avanço maior neste sentido com a criação de um fundo para compensar as “perdas e danos” dos países que são mais vulneráveis ao impacto climático e que têm menos responsabilidade histórica nas emissões de gases do efeito estufa. Mas o início da operação do fundo é algo complicado.

“É necessário que esta COP dê um impulso a estes fundos com anúncios de contribuições significativas”, disse Guterres.

Com as previsões de que as temperaturas devem aumentar entre 2,5°C e 2,9°C este século se nada for feito, o secretário-geral da ONU, que alerta para a possibilidade de “catástrofe total”, não deseja abandonar a meta de 1,5°C. Ele confia que as tecnologias, em particular as energias renováveis, ajudarão a cumprir o objetivo.

“Temos o potencial, as tecnologias, a capacidade, o dinheiro, porque o dinheiro está aí, basta apenas orientá-lo na direção correta”, disse.

“A única coisa que continua em falta é a vontade política. E é por isso que a COP é importante, para que as pessoas compreendam que seguimos no caminho errado”.

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