Arábia Saudita e Iraque se mostraram firmes neste domingo (10) em sua defesa dos combustíveis fósseis na COP28, onde quase 200 países tentam trazer mais ambição para a luta contra a mudança climática.

A Arábia Saudita, o maior exportador de petróleo do mundo, pediu ao restante dos participantes “pensar positivo, abordar a redução necessária de emissões… mas também ter em conta nossas perspectivas e preocupações.

O Iraque, por sua vez, foi ainda mais contundente: “a redução gradual, a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e a eliminação gradual dos subsídios aos combustíveis fósseis, são contrárias aos princípios do Acordo de Paris” de luta contra a mudança climática.

A COP28 está reunida em Dubai para adotar novos compromissos após realizar um balanço da ação climática pós-Acordo de Paris de 2015, cujo principal objetivo era limitar idealmente o aumento da temperatura média mundial em um máximo de +1,5 °C.

Essa meta não apenas está distante, mas o mundo não cumpriu com praticamente tudo o que havia se comprometido a fazer desde então.

Uma saída das energias de origem fóssil “vai causar perturbações à economia mundial e aumentar as desigualdades” acrescentou o representante iraquiano.

Os dois representantes se manifestaram em uma reunião convocada pelo presidente da conferência, o emiradense Sultan Al Jaber.

Jaber reuniu os ministros e representantes governamentais em um formato tradicional árabe, um “majlis”, ou “assembleia”, à qual todos deveriam comparecer sem discursos escritos, e “dispostos a ouvir o outro”.

Mas o encontro só deixou evidente que, faltando dois dias para o encerramento da conferência em Dubai, as posições continuam sendo inflexíveis.

– ‘Fracassar não é uma opção’ –

“Fracassar não é uma opção” havia declarado Jaber antes de entrar no “majlis”.

“O que buscamos é o bem comum. O que buscamos é o melhor para todos, em todas as partes”, afirmou.

Os países mais ambiciosos querem que fique claro no texto que o mundo deve abandonar (“phase out”) o mais cedo possível os combustíveis de origem fóssil.

“Minha sensação é que há uma maioria, para não dizer uma supermaioria”, em favor desta opção, assegurou o comissário europeu de Ação Climática, Wopke Hoekstra, aos jornalistas após essa reunião.

Esse consenso “está baseado na ciência, ciência, ciência”, repetiu a seu lado a ministra de Transição Ecológica da Espanha, Teresa Ribera.

Mas países como o Iraque também insistem em que a ciência não descarta totalmente que se possa atingir a meta de +1,5 °C com combustíveis fósseis ainda presentes na matriz energética.

Os climatólogos insistem em que, até agora, o petróleo, o gás e o carvão têm sido os grandes responsáveis pela concentração de CO2 na atmosfera e, consequentemente, do aumento da temperatura média do planeta.

E a Agência Internacional de Energia (AIE) estimou neste domingo que os compromissos conseguidos até agora apenas reduzirão as emissões de gases do efeito estufa em 30% em relação à cifra ideal, daqui até 2030.

– ‘Tirar o pé do acelerador’ –

“Precisamos fazer inadiável e simultâneo esforço de países produtores e consumidores para tirar o pé do acelerador das energias fósseis”, declarou a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, em reunião da COP28 neste sábado.

Mas o Brasil admitiu publicamente que pretende se juntar à aliança de países produtores Opep+.

“É claro que os países menos desenvolvidos não conseguirão avançar ao mesmo ritmo que as grandes economias do G20”, reconheceu a enviada especial para o clima da Alemanha, Jennifer Morgan.

Em Dubai há outras discussões importantes para conseguir um acordo equilibrado, como estabelecer uma meta clara de adaptação à mudança climática.

É um tema seguido muito de perto pelos países em desenvolvimento, e o único que carecia de um texto quando a COP28 começou em Dubai.

A presidência dos Emirados publicou neste domingo um rascunho de sete páginas desta Meta Global de Adaptação, cujo trabalho é co-presidido pelo Chile.

“É um passo adiante”, disse à AFP uma fonte negociadora latino-americana, antes de entrar em uma sessão de negociações.

“Em termos de objetivos, o texto não é nada claro”, disse aos repórteres a especialista argentina María del Pilar Bueno, que liderou as negociações de adaptação em Paris há oito anos.

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