COP-30: Brasil corre contra o relógio para evitar fiasco em conferência do clima

Com presidente nomeado, governo precisa concentrar seus esforços para entregar resultados nas negociações antes do evento previsto para novembro, mas, para isso, precisa driblar obstáculos

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Embaixador André Corrêa do Lago participa da COP29, em Baku, Azerbaijão 23/11/2024 Foto: REUTERS/Maxim Shemetov

A nomeação do presidente da COP-30, o embaixador André Lago, é apenas o pontapé inicial da jornada brasileira para receber a maior conferência climática do mundo: a COP-30. Mas, para evitar o fiasco protagonizado pelo Azerbaijão no ano passado, o governo brasileiro terá que correr — e muito — contra o relógio para embalar as negociações e conseguir o sucesso pretendido pelo Palácio do Planalto.

Lago terá a missão de organizar e comandar as negociações com todos os países para fechar acordos ambientais antes mesmo do evento, previsto para novembro. A 10 meses da conferência climática da Organização das Nações Unidas (ONU), é hora de o governo concentrar seus esforços em chegar a um senso comum.

O principal interesse do governo brasileiro não é uma das coisas mais fáceis de se conquistar. A proposta do país é criar um financiamento ambiental para a preservação das florestas, com aporte anual de países desenvolvidos. A medida poderá beneficiar 80 países e injetar US$ 250 bilhões em países subdesenvolvidos.

A missão do governo Lula pode ganhar um caminho mais fácil com a adesão de países europeus ao projeto. França e Espanha, por exemplo, devem assinar, mas, claro, mediante negociações bem detalhadas.

O problema maior está em outro país, com mais força e com um novo presidente: os Estados Unidos. Donald Trump é um político protecionista, ignora acordos e já disse não precisar do Brasil.

Logo no primeiro dia de mandato, assinou um decreto que tira a terra do Tio Sam do Acordo Climático de Paris, assinado em 2015. Essa é a segunda vez que Trump deixa o acordo, sendo a primeira em 2017, quando assumiu a Casa Branca.

A preocupação é que outros países com políticas alinhadas às de Trump também possam debandar. Podemos citar a Itália e, principalmente, a Argentina como exemplos.

Para evitar o desacordo, o Brasil terá que trazer um convencimento a mais, algo diferente, para emplacar o sucesso no acordo e evitar o enfraquecimento da proposta e de outros temas que venham a ser discutidos.

Mas o governo brasileiro não quer olhar apenas para os cuidados com o meio ambiente. Quer dinheiro, investimento e protagonismo político.

Dinheiro e investimentos principalmente ligados à transição energética e a outros acordos que podem injetar bilhões de reais no país. Nesse setor, o encarregado é o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que foi escalado por Lula para buscar investimentos no Fórum de Davos deste ano.

O Planalto também quer alavancar a credibilidade do país no cenário internacional. Na avaliação de aliados de Lula, usar essa “carta na manga” pode favorecer o petista nas eleições de 2026.

Claro, para isso, deverá correr contra o tempo e superar o fracasso da COP-29. O relógio gira e o governo sabe que precisa agilizar.