De 6 a 18 de novembro, a cidade de Sharm el-Sheikh foi palco da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), que reuniu representantes de vários lugares do mundo para discutir temas como mitigação dos gases de efeito estufa (GEEs), os impactos do desequilíbrio climático no orçamento dos países e estratégias globais para conter o aquecimento global.

Entre os diversos compromissos firmados, está um pacote de medidas assumidas por países que reafirmaram o seu compromisso de limitar o avanço da temperatura global a 1,5oC em relação ao níveis pré-industriais. Além disso, também fortaleceu ações voltadas para a redução de GEEs, assim como o aumento de captação financeira e investimentos em tecnologia para buscar novas alternativas de mitigação do gás carbônico.

Nomeado como plano de implementação de Sharm el-Sheikh, o documento destacou que a transformação de uma economia global voltada para o baixo carbono exigirá investimentos entre US$ 4 trilhões e US$ 6 trilhões por ano.

Outra decisão relevante foi a criação de um fundo de perdas e danos para os países mais afetados pelas mudanças climáticas. Os governos envolvidos concordaram em estabelecer um comitê de transição para alinhar as estratégias para operacionalizar os novos acordos de financiamento e o fundo na COP28, marcada para 2023.

Indústria de alimentos: planos para reduzir as emissões

Representantes da indústria mundial de alimentos participaram de várias ações durante a COP27. Segundo uma pesquisa da Aliança Global para o Futuro da Alimentação, o setor é responsável por quase um terço das emissões de gases de efeito estufa, o que a torna parte fundamental para manter o aquecimento global abaixo de 1,5oC até 2050.

Entre as iniciativas apresentadas, está o Roteiro Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C, um roadmap criado por 14 das maiores empresas de alimentos do mundo – entre elas, a JBS – que engloba planos de trabalho para reduzir as emissões.

A iniciativa propõe um plano para lidar com a perda de florestas nas cadeias de suprimentos e inclui o fortalecimento de políticas, regulações e incentivo a produtores para promover a proteção dos recursos naturais.

Para Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, há o grande desafio de enfrentar as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, aumentar a produção global para garantir a segurança alimentar. “Para avançar da maneira mais rápida no Brasil, o setor deve se concentrar nas principais áreas e nos impulsionadores do desmatamento.”

Segundo Tomazoni, o ano de 2023 será essencial para ir mais longe no compromisso de conter o aquecimento global para desenvolver incentivos e apoio técnico para os produtores.

Segurança alimentar x redução das emissões

O CEO global da JBS participou ainda do evento Food Systems, dentro da COP27, que abordou a questão da segurança alimentar e o cuidado com o meio ambiente.

Tomazoni destacou que é possível promover a descarbonização da economia e promover a segurança alimentar ao mesmo tempo. “Hoje, temos conhecimentos e ferramentas que nos permitem tanto produzir mais para garantir que a população global tenha acesso aos alimentos como reduzir as emissões. O que temos que fazer é dar suporte para os agricultores e pecuaristas na transição para novas tecnologias, ao mesmo tempo em que estamos em compliance com nossos próprios programas ambientais”, destacou o executivo.

Economia de baixo carbono

Outra ação da indústria global de alimentos durante a COP27 envolveu a realização do painel Diálogo Empresarial para uma Economia de Baixo Carbono, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) do Brasil em parceria com a Câmara de Comércio Internacional (ICC).

De acordo com dados da confederação, a indústria brasileira é uma das que menos emitem gases de efeito estufa e tem trabalhado para buscar mecanismos para ajudar os setores a mitigar suas emissões.

Para Liège Correia, diretora de sustentabilidade da Friboi que participou da Conferência, já existem soluções para a produção sustentável e muitos produtores estão no caminho certo, com tecnologias como a Integração Lavoura-PecuáriaFloresta, que permite ao produtor, em uma mesma área, elevar a produção de alimentos em até 40% e, ao mesmo tempo, capturar gases de efeito estufa. “Muitos produtores estão no caminho certo e temos que ajudar aqueles que ainda não fazem parte desse modelo de produção, com recursos e suporte técnico.”

Projeto InovAmazônia: proteínas vegetais alternativas

Ainda com foco na produção de alimentos, durante a COP27, o The Good Food Institute Brasil apresentou o InovAmazônia, seu novo projeto de incentivo à pesquisa que aborda o desenvolvimento de soluções e ingredientes alimentícios para a indústria plant-based, a partir de espécies nativas do bioma Amazônia, como açaí, babaçu, cacau, castanha do Brasil, cupuaçu e tucumã.

Apoiada pelo Fundo JBS pela Amazônia, a pesquisa receberá investimentos na ordem de R$ 2,7 milhões e contará com o envolvimento de 40 pesquisadores especializados em proteínas alternativas. Prevê ainda a realização de parcerias com universidades locais.

Segundo Gustavo Guadagnini, presidente do instituto e participante do painel “Zeroconversion food – Feeding a growing world in ways that enable recovery of biodiverse
lands and waters”, o InovAmazônia envolve um investimento maciço em ciência e tecnologia para transformar o sistema alimentar brasileiro. “Ao mesmo tempo, financia parcerias entre pesquisadores e comunidades realmente afetadas, gerando incentivos para manter a floresta em pé, de forma sustentável e com respeito ao conhecimento dos produtores locais”, disse.

Seguindo a mesma linha, Andrea Azevedo, diretora do Fundo JBS pela Amazônia, enfatizou que é preciso olhar para o bioma como uma oportunidade e não como um problema, tendo a inovação como um importante caminho nesse sentido. “A conservação da biodiversidade tem um real potencial econômico. Para isso, temos que fortalecer a relação entre indústria e pesquisadores para que o processo tenha mais eficiência e se torne um grande hub na bioeconomia do Brasil.”

A COP28 já tem data e local confirmados: ocorrerá de 6 a 17 de novembro de 2023 em Dubai, nos Emirados Árabes.