Especialista alerta que o lado afetivo da abordagem é mais importante do que a geração de capacidade linguística

 

Por Alexandre Raith, da Agência Einstein

Usar um tom de voz mais alto, em uma velocidade mais lenta e exagerando na pronúncia das palavras pode estimular a produção motora e a percepção da fala em bebês de seis a oito meses, segundo estudo.

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A pesquisa, conduzida pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, consistiu em mudar a frequência de sons emitidos por aparelhos para imitar a voz infantil ou a adulta. Em seguida, os pesquisadores testaram as reações de 65 crianças divididas em dois experimentos: entre seis a sete meses e entre cinco a sete meses. Os resultados, publicados no periódico científico Journal of Speech, Language and Hearing Research, se diferenciaram de acordo com a idade.

Diferentemente dos bebês de até seis meses, aqueles entre seis e oito meses de idade se sentiram mais atraídos pelos sons infantis, o que indicaria que eles preferem controlar suas vozes e fazer palavras com o balbucio, segundo os autores. Os padrões associados a esse estilo de falar, que os pesquisadores chamam de “fala dirigida às crianças”, poderiam ser um componente-chave para ajudar os bebês a formular as palavras, no futuro.

Não se trata de “infantilizar”

A fala avaliada pelos pesquisadores não se trata de trocar palavras, como “mimir” ao invés de dormir, segundo Lúcia Arantes, professora do programa de pós-graduação de Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). “Não é infantilizar, mas pensar que essa fala constrói um laço afetivo”, explica.

De acordo com Arantes, que também é fonoaudióloga do Serviço de Patologia da Linguagem da Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação (DERDIC/PUC-SP), há realmente benefícios no “manhês” — que é a forma melodiosa e ritmada como a mãe se dirige ao bebê — conhecida também como baby talk. Confira a entrevista com a especialista:

O estudo indica que falar a bebês com entonações mais altas, devagar e pronunciando exageradamente pode ajudá-los a aprender a produzir a fala. O que acha dos resultados?

É um estudo de laboratório que considera muito pouco as questões subjetivas. O “manhês” é uma forma ritmada, sintonizada, o modo de exercer a função materna, como a mãe se interessa ao bebê. Estudos na psicanálise mostram também a relevância dele no desenvolvimento psíquico da criança. É inegável a importância, mas menos pelos aspectos que esse estudo traz e mais pelo que o “manhês” traz do lado afetivo mãe-criança no primeiro ano de vida. É muito mais que altura e intensidade vocal.

Por que a preferência dos bebês de 6 a 8 meses pelo trato vocal infantil foi diferente daqueles de 4 a 6 meses?

A cronologia por si não responde. Eles não consideraram que um bebê de 4 meses escuta, discrimina, reconhece a fala da mãe. Passa pelo afeto, e não pela qualidade linguística. Eles isolaram uma face do “manhês” do resto do desenvolvimento infantil. A metáfora que se usa é o canto da sereia. Essa melodia que seduz a criança, que traz para o simbólico. É uma relação que passa pelo gesto, olhar, acalanto. Não é uma mãe ativa e uma criança que recebe.

Quais são os benefícios desse tipo de abordagem?

Para mim, não passa pela qualidade sonora, apenas. É uma modificação da fala que o adulto faz no sentido de enlaçar a criança pela voz. Uma matriz simbolizante que vai sendo implantada nessa musicalidade do agente materno. Estranho escolher a altura e a intensidade e achar que isso responde por uma melhor capacidade linguística. O laço que se faz pela fala é determinante para o desenvolvimento da criança.

Há também prejuízos quando ultrapassa a fase dos bebês? Tem um limite de idade?

Estudos dizem que existe uma sintonia fina e que a mãe muda a sua fala à medida que a criança cresce. Uma mãe que cristaliza a sua fala tem que pensar no que ela deseja para a criança. Tem uma figura de filho sendo projetada. Se fala a primeira vez “pepe”, você fala “está aqui tua pepe”. Mas com dois anos e meio, se a criança fala “pepe”, você responde “toma a chupeta”. São movimentos que a mãe vai respondendo às mudanças estruturais que acontecem na fala da criança.

(Fonte: Agência Einstein)

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