Guerra na Ucrânia, União Europeia (UE), imigração, valores morais e aquecimento global protagonizam os temas que os partidos da coalizão de direita, vencedores das eleições legislativas da Itália no domingo (25) prometeram encarar unidos.
– Política externa –
Em diversas ocasiões, os membros da coalizão enfatizaram que vão “respeitar os compromissos firmados” pela Itália com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), da qual faz parte, assim como o apoio à Ucrânia após a ofensiva russa.
A família política de Meloni é históricamente anticomunista e defende arduamente a Aliança Atlântica.
Já seu aliado Matteo Salvini, cujo futuro na liderança de seu partido (Liga) parece comprometido após o colapso nas urnas, sempre deixou clara sua rejeição às sanções que afetam a Rússia. Ele foi explicitamente um admirador de Vladimir Putin no passado.
A posição de Silvio Berlusconi, do Forza Italia, também é complexa, já que não consegue se distanciar de seu velho amigo Vladimir Putin. Em 2014, eles visitaram juntos os territórios da Crimeia, recém-anexados pela Rússia.
– União Europeia –
A aliança garante a “plena adesão” da Itália ao “processo de integração europeia”, embora peça uma “União Europeia mais política e menos burocrática” e exija a “revisão das regras do Pacto de Estabilidade e da governança econômica”.
Apesar de Giorgia Meloni ter abandonado a ideia de um “Italexit”, ou seja, a saída da Itália do bloco, a líder pós-fascista deseja mudar a relação entre as duas partes.
“Acabou a festa. A Itália começará a defender seus próprios interesses nacionais, como os outros fazem, e então buscaremos soluções comuns”, alertou Meloni durante a campanha eleitoral.
– Economia –
Considerada por alguns economistas a “doente” da zona do euro, logo após a Grécia, a Itália desmorona sob uma dívida colossal, diante de uma inflação superior a 9% e com uma produtividade baixa que freia, consideravelmente, o crescimento do país.
Por isso, precisa ter acesso aos cerca de 200 bilhões de euros de ajuda concedida pela UE no âmbito do plano para recuperação econômica pós-covid, negociado pelo primeiro-ministro de saída Mario Draghi. Ele renunciou em julho passado, após perder apoio de vários partidos.
A coalizão liderada por Meloni promove “uma revisão que inclua novas condições do plano de recuperação, de acordo com as necessidades e as prioridades”, e que também leve em conta a crescente inflação.
No começo de setembro, Meloni questionava as revisões. “O governo socialista de Portugal já fez, por que a Itália não pode?”, compara ela com uma petição feita por Portugal.
– Valores –
Admitido pela própria Meloni, a aliança pretende promover os valores “conservadores” compartilhados por todos, assim como defender “as raízes e a identidade histórica e cultural judaico-cristãs na Europa”.
Para isso, deseja lançar um “plano de apoio ao parto que proporcione creches gratuitas, hortas escolares nas empresas e brinquedotecas”. Espera, com isso, combater o “inverno demográfico” que, segundo eles, coloca em perigo o patrimônio cristão do continente. Os italianos não têm filhos, e a população cresce graças aos imigrantes.
-Imigração –
A ideia é frear a imigração ilegal com a criação de “ponto de acesso” nos países de origem, onde serão processados os pedidos de asilo.
O projeto consiste em “bloquear os barcos” de imigrantes que tentam cruzar o Mediterrâneo “para evitar, de acordo com as autoridades do norte da África, o tráfico de seres humanos”.
Quando foi ministro do Interior em 2018 e 2019, Matteo Salvini proibiu os barcos humanitários, que resgatavam os migrantes no mar, de atracarem em portos italianos. Centenas de pessoas ficaram presas na costa em condições sanitárias precárias. O líder da Liga está sob julgamento em um tribunal siciliano por conta disso.
– Energia e meio ambiente –
Para lutar contra o aquecimento global, a coalizão de direita considera necessária uma “transição energética sustentável” com o aumento da produção de energias renováveis e o recurso à energia nuclear. A Itália não tem usinas nucleares.
Meloni antecipou que “respeitará” os compromissos internacionais assumidos pela Itália para lutar contra a “mudança climática”. Ela não usa o termo “aquecimento”. Sem dar muitos detalhes, diz querer “atualizar” esses compromissos.
Extremamente dependente do gás russo, a Itália tenta “diversificar suas fontes de abastecimento” e já luta pela autossuficiência.