25/11/2017 - 12:51
Em 29 de novembro de 1947, há 70 anos, a Assembleia Geral da ONU adotou o plano de partilha da Palestina em dois Estados, um judeu, outro árabe. Isso permitiu a concretização do projeto sionista, mas foi o início de uma longa tragédia para os palestinos.
A votação histórica das Nações Unidas deu lugar, seis meses depois, em 14 de maio de 1948, ao nascimento do Estado de Israel. Já o Estado palestino independente ainda não foi criado.
– Dossiê palestino confiado à ONU –
Após a Segunda Guerra Mundial, Grã-Bretanha não conseguiu controlar a situação da Palestina, sob seu mandato desde 1922 por decisão da Liga das Nações.
O genocídio judeu, a chegada dos Estados Unidos ao Oriente Médio, a criação da Liga Árabe e a pressão exercida pelos grupos sionistas armados clandestinos mudaram radicalmente o contexto local e internacional.
Em fevereiro de 1947, Londres transfere o caso palestino às Nações Unidas.
– Votação de três minutos –
Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU em Nova York aprova em votação a partilha da Palestina. A resolução 181 é adotada por 33 votos a favor – inclusive dos Estados Unidos, da União Soviética e da França -, 13 contra – entre eles, os dos Estados árabes – e dez abstenções – como a Grã-Bretanha. A votação não dura mais que três minutos.
A Palestina, onde viviam então 1,2 milhão de árabes e 600 mil judeus, fica divida em três entidades, que deverão ser independentes a partir de 1 de agosto de 1948.
O Estado judeu, de 14.000 km2, inclui uma faixa que vai do extremo norte da Galileia, até a margem do lago Tiberíades, o litoral central (de Haifa a Tel Aviv) e o deserto de Neguev.
Os palestinos conservam três regiões, com 11.500 km2: uma na Galileia ocidental, a segunda na Faixa de Gaza com uma parte da fronteira com o Sinai e a terceira na Cisjordânia.
Jerusalém e as regiões do entorno foram um “corpus separatum”, sob um regime internacional especial, administrado pela ONU.
Assim, os judeus ficam com 54% do território, apesar de não representarem mais de 30% da população.
O plano indica detalhadamente as medidas que deverão ser tomadas para a independência desses territórios, como a cidadania, o direito de trânsito, a união econômica e a declaração que o Governo provisório de cada um dos Estados propostos deverá formular sobre o acesso aos lugares sagrados e os direitos das comunidades religiosas e minorias.
– Estados Unidos e URSS: uma frente comum –
Até o último momento, os países árabes da ONU que reclamam a criação de um “Estado palestino único, democrático e independente” tentam se opor à partilha.
Mas eles não conseguem superar a inesperada aliança, em meio à Guerra Fria, entre Estados Unidos e União Soviética, que conseguem garantir a maioria de dois terços necessária para a adoção do texto.
Para os soviéticos, é interessante expulsar os britânicos da Palestina. Já os americanos estão cada vez mais conscientes da influência crescente do judaísmo em seu próprio país.
– Sonho para uns, pesadelo para outros –
Os dirigentes da Agência Judaica aceitam o plano, mas alguns sionistas o rechaçam pois está longe de se assemelhar à grande Israel que eles almejam. Após a votação, a multidão comemora e aplaude em Tel Aviv.
Ao mesmo tempo, um forte sentimento de injustiça começa a se espalhar entre os palestinos. Os países árabes rechaçam o plano.
Os incidentes vão se multiplicando na Palestina, com os dois grupos se esforçando para afirmar uma posição de força.
Em 14 de maio de 1948, David Ben Gurion proclama a criação do Estado de Israel, logo após o fim do mandato britânico na Palestina. O primeiro conflito árabe-israelense começa no dia seguinte.
Em seguida, Israel ocupa 78% da Palestina. Mais de 760 mil palestinos adotam o êxodo.
Durante o conflito de junho de 1967, Israel chega a ocupar, além do Golã sírio e do Sinai egípcio (restituído ao Egito em 1982), a Cisjordânia, Jerusalém Leste – que mais tarde vai anexar – e a Faixa de Gaza, de onde se retirou unilateralmente em 2005.