Após mais de quatro meses de paralisação, o campeonato nacional de futebol do Catar, sede da Copa do Mundo de 2022, será restabelecido nesta sexta-feira. Para que sua retomada fosse concretizada, o pequeno país do Oriente Médio estabeleceu o confinamento total de jogadores e membros de comissões técnicas em um hotel, como conta o zagueiro Lucas Mendes, do Al-Wakrah, um dos sete brasileiros que atuam no país.

“O isolamento no hotel aconteceu nas duas primeiras semanas. Fomos testados e encaminhados para lá. Café da manhã, almoço e janta eram feitos no quarto. Cada jogador tinha o seu. Só saímos para treinar. Depois deste período, realizamos mais uma testagem e fomos liberados para cumprir a segunda parte do isolamento em casa”, explicou Mendes.

De acordo com o nutricionista e preparador físico do Qatar SC, Diego Pereira, os atletas encararam o confinamento como parte de uma pré-temporada. Segundo o brasileiro, para que o tempo passasse mais rápido e os atletas pudesse sair de seus quartos, as sessões de treinamento eram estendidas.

“Estávamos treinando em dois períodos e, para ser sincero, não estávamos nem vendo a hora passar. Procuramos fazer atividades integrais. Fracionamos o treino em dois para tirar os atletas do quarto. A federação proibiu que eles saíssem de lá e recebessem visitas. Inclusive dos companheiros da mesma equipe. Recebemos quatro refeições em nossos quartos por dia e só víamos outras pessoas durante os treinamentos”, revelou Pereira.

A operação rígida de isolamento imposta aos jogadores e membros da comissão técnica possuem suas razões. O Catar será o país sede da próxima Copa do Mundo, portanto, deve mostrar serviço e se fazer uma referência no controle da pandemia. Tanto Diego quanto Lucas concordam que o país agiu de forma rápida para evitar que a disseminação do vírus fosse maior.

“A Federação de Futebol do Catar utilizou todos os recursos possíveis para minimizar os impactos gerados pela pandemia. Voltamos a treinar e cada clube precisa fazer testes praticamente duas vezes na semana, além de ter conosco um profissional ligado ao ministério da saúde para avaliar se estamos respeitando os protocolos exigidos pela federação”, explicou o preparador físico, que teve a fala complementada por Lucas.

“No começo, adiaram a liga, depois deram férias aos jogadores. Agora, com a situação mais controlada, retornamos aos treinos, mas, para isso, fazemos testes para a covid-19 a cada quatro ou cinco dias. O país tomou medidas rápidas. Tivemos muitos casos no início da pandemia, mas agora a situação está mais controlada”, disse o zagueiro.

De acordo com Ministério da Saúde do Catar, o país já registrou mais de 108 mil casos de covid-19 e mais de 370 mortes em decorrência da doença. Curiosamente, a pandemia é controlada através de um aplicativo de celular, que indica o estado de saúde de cada pessoa através de cores.

Durante o período de isolamento no hotel, os jogadores eram classificados com a cor amarela, indicada aos que cumprem quarentena. Quem não tiver o aplicativo instalado em seus celulares, poderá ser multado em até US$ 55 mil (cerca de R$ 294 mil).

Por sinal, a tecnologia tem se mostrado grande aliada do futebol no país. O estádio Education City, que será um dos palcos da Copa do Mundo de 2022, por exemplo, possui ar-condicionado por conta das altas temperaturas do deserto.

O Qatar SC, do preparador Diego Pereira, irá inaugurar o local na partida de retomada da competição contra o Al Rayyan. O preparador conta que a tecnologia também foi utilizada para a preparação dos atletas.

“Por causa do calor extremo, analisamos a densidade da urina dos atletas para aferir o grau de hidratação. Os testes são realizados em dias alternados e estamos obtendo uma excelente aceitação e conscientização deles. Além disso, acredito que tenhamos sido um dos primeiros clubes do mundo a usar o treinamento online. Meu filho, por exemplo, já estava fazendo aulas à distância desde o início de fevereiro”, explicou.