Alinhado ideologicamente com o ex-presidente Donald Trump, Jair Bolsonaro foi o último líder mundial dos países do G20 a parabenizar Joe Biden por sua vitória. Em resposta, o atual mandatário norte-americano deixou o País de lado, Biden e Bolsonaro nunca falaram ao telefone ou discutiram acordos comerciais ou parcerias. Essa situação de abandono, entretanto, deve mudar com a escolha da advogada Elizabeth Bagley, de 69 anos, para o cargo de embaixadora dos Estados Unidos no Brasil.

A nomeação final de Elizabeth ainda deve passar pelo senado norte-americano, mas por seu currículo impecável e dentro da tradição diplomática entre os dois países, não deve enfrentar resistências por lá. As dificuldades, entretanto, serão todas do governo Bolsonaro, pouco afeito às mulheres poderosas, inteligentes e defensoras de pautas progressistas.

Ampla atuação

Com quatro décadas de experiência na diplomacia e no direito, Elizabeth Bagley é figura conhecida no partido Democrata de Joe Biden. Seu grande trunfo político é ser uma grande doadora ao partido e sua carreira é alinhada com o que o que os ultra-direitistas brasileiros chamam equivocadamente de “socialismo”. Ou seja, ela é contra a qualquer forma de descriminação sexual ou racial, a favor de um maior controle nas vendas de armas de fogo e defensora dos direitos das mulheres e do meio-ambiente.

“Sua experiência diplomática inclui serviço como conselheira sênior dos Secretários de Estado John Kerry, Hillary Clinton, e Madeleine Albright. Ela também serviu como representante especial para a Assembleia Geral das Nações Unidas, representante especial para Parcerias Globais, e embaixadora dos EUA em Portugal”, diz o comunicado oficial da Casa Branca.

“As indicações de embaixadores são políticas, tanto entre governos democratas como entre republicanos, ao contrário do que geralmente acontece no Brasil. Elizabeth Bagley é uma escolha interessante”, diz o analista e professor em política internacional Carlos Gustavo Poggio. Especialista em assuntos norte-americanos, Poggio afirma que ao mesmo tempo em que é uma escolha voltada aos interesses democratas, o perfil técnico não deixa a desejar. A escolha do nome nesse momento já funciona como aviso a Bolsonaro que, no meio de uma escalada militar entre a OTAN e a Rússia, pretende visitar o país de Vladimir Putin em fevereiro.

Além de já ter trabalhado para os Governos de Bill Clinton e Barack Obama, a embaixadora também é dona e diretora de uma empresa de telefonia celular no estado norte-americano do Arizona. “O fato de ela estar hoje na atividade privada e de haver feito doações para campanhas eleitorais não apresenta nenhum inconveniente. Seria preocupante se fosse uma mulher de negócios sem nenhuma experiência diplomática”, explica o ex-embaixador do Brasil em Washington, Rubens Ricupero. Por ter trabalhado em Portugal e falar Português, ela não deve ter dificuldades em fazer sua voz ser ouvida.