ROMA, 28 OUT (ANSA) – O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, prestou consultoria a uma empresa envolvida em um escândalo financeiro no Vaticano pouco antes de sair do anonimato para o cargo de maior relevância política no país, em 1º de junho de 2018.   

O caso foi revelado pelo jornal britânico Financial Times e diz respeito a uma disputa acionária pelo controle da Retelit, empresa que detém uma rede de fibra ótica de 12,5 mil quilômetros na Itália.   

Segundo o diário, em abril de 2018, a companhia Fiber 4.0, controlada por um fundo do empresário Raffaele Mincione, contratou Conte, então professor de direito na Universidade de Florença, como consultor para tentar reverter uma votação na qual os acionistas da Retelit haviam dado o comando da empresa a grupos estrangeiros.   

Mincione, segundo o Financial Times, assumiu o controle da Fiber 4.0 graças a 200 milhões de euros provenientes da Secretaria de Estado do Vaticano, em uma operação que é investigada pela própria Santa Sé e já levou à suspensão de cinco funcionários da cidade-Estado.   

Na época da consultoria, Conte era desconhecido da maior parte da população italiana, mas já era cotado como possível ministro de um governo de aliança entre o Movimento 5 Estrelas (M5S) e a Liga. Seu parecer final, enviado em 14 de maio, afirmava que o único modo de reverter a votação em prol da Fiber 4.0 era por meio do “golden power”, um instrumento que permite ao governo vetar operações de empresas privadas estratégicas, especialmente no setor de telecomunicações.   

Conte assumiu o cargo de primeiro-ministro pouco depois e, em um de seus primeiros atos, o novo governo exercitou o “golden power” na Retelit. A decisão, no entanto, foi tomada em uma reunião do conselho dos ministros presidida por Matteo Salvini, já que o premier estava na cúpula do G7 no Canadá.   

O envolvimento de Conte com a Fiber 4.0 já era conhecido desde o ano passado, mas a novidade trazida pelo Financial Times é a ligação do fundo com um escândalo financeiro no Vaticano. O caso estourou no início de outubro, quando a imprensa italiana revelou a suspensão de cinco funcionários – quatro da Secretaria de Estado e um da Autoridade de Informações Financeiras – por suspeita de irregularidades na gestão dos recursos da Santa Sé.   

O escândalo já derrubou o ex-chefe da Gendarmaria do Vaticano, Domenico Giani, que renunciou ao cargo após ter sido acusado em um SMS anônimo de vazar a informação sobre o inquérito para a imprensa.   

O governo italiano, por sua vez, divulgou uma nota nesta segunda-feira (28) afirmando que o premier deu apenas um “parecer legal” à Fiber 4.0. “Conte não sabia que alguns investidores respondiam a um fundo apoiado pelo Vaticano e hoje no centro de um inquérito”, diz o comunicado.   

Já Salvini afirmou que seu partido, a Liga, pedirá a convocação do primeiro-ministro ao Parlamento para prestar esclarecimentos sobre um potencial conflito de interesses. “Mas ele deveria fazê-lo sem que a Liga solicitasse”, afirmou o ex-ministro, que não cobrara Conte sobre a questão na época em que eram aliados.   

(ANSA)