Jacyara Azevedo e Marina Monzillo Fotos: Rafael Hupsel/ Ag. Isto É Na entrevista concedida para a edição especial Os 50 Mais Sexy de Gente, o psicanalista Contardo Calligaris, de 63 anos, abre seu vasto repertório de opiniões e afirma não haver vida sexual sem fantasia. A seguir, o papo exclusivo com Gente Online: O sr. diz que é impossível haver uma relação sem fantasia. Qual é sua definição para fantasia sexual? Ela é fundamentalmente um cenário, um roteiro da sexualidade sem o qual a excitação e o desejo não se sustentam. Por outro lado, reprimi-la ou ignorá-la não é apenas possível, mas frequente. Tanto os homens quanto as mulheres podem passar a vida inteira sem explicitar suas fantasias sexuais… Será que isto é melhor do que a tentativa de explicitá-las? Difícil dizer. O fato é que o sexo humano não tem absolutamente nada de natural. E o instinto? Isso não existe mais há milhares de anos. Em algum momento da evolução, os homens se diferenciaram dos outros animais. Curiosamente somos os únicos mamíferos para quem as regras não coincidem com o momento em que as mulheres podem ser fecundadas. Nossa sexualidade saiu do campo da naturalidade. Situações diferentes fazem com que cada um deseje o outro. Pode ser a janela entreaberta, por exemplo. Quem o vizinho está olhando… Isto acontece no nível inconsciente? Ou não. Há pessoas para quem isto é claríssimo e, ao contrário, elas abrem a janela para transar (risos). Esquentar uma relação envolve necessariamente sexo? Não. E transar mais vezes não é um conselho muito interessante. No sexo, eu iria mais na linha de como cada um pode mobilizar sua fantasia sexual, algo que na rotina se perde. Aliás, tem coisas engraçadíssimas nos casais, como acharem que ?a gente transa depois de entrar na cama e assistir ao Programa do Jô?. Isso não existe! Em outro sentido, um casal deve ter uma aventura de vida em comum. Pode ser qualquer projeto como ?vamos um dia mudar de cidade? ou até mesmo ?vamos criar os filhos?. Tem pessoas que ficam indignadas quando casais permanecem juntos só por causa dos filhos. Se eles não estiverem se sacrificando para, um dia, se separarem, criar os filhos juntos é um grande projeto. Pensar que os filhos são uma puta aventura que nos une não é uma estupidez. Virou lugar comum pensar que a chave para tudo é ?ser você mesmo?. O quanto há de verdade nisso? Tem situações nas quais eu entendo o que significa. Há pessoas que têm muita dificuldade de verbalizar seu desejo. Um exemplo clássico: depois de um encontro, os dois saem sem saber se aquilo terá uma continuidade. As mulheres são. Aí, a mulher, que é particularmente sensível a esta situação, volta para casa e pensa se ele vai telefonar. E fica esperando. Mas, se ela está a fim de ligar, então ligue! ?Ah, mas daí ele não vai gostar…?. Se ele não gostar tudo bem, você vai saber e acabou. Ser você mesmo também é ter a coragem de tentar o que quer, como a de dizer ?Eu gosto de você? e ouvir ?Eu não?. Se isto acontecer, valeu, pelo menos eu disse o que sentia. Mas é possível ter relações sem o tal do jogo? Não, idealizar isto seria maluco. Mas também é verdade que há muito mais silêncio do que o preciso. E sofrimento inútil. O sr. já declarou que os homens estão ficando mais interessantes. Por quê? Não existe mais uma resposta pronta sobre o que é ser um homem, como houve durante muito tempo. No século 19, se um homem fosse um provedor e fizesse um filho de vez em quando, estava preenchendo seu contrato. Não é mais o caso. A ideia de um homem se perguntar se ele é ou não desejado pela sua mulher é totalmente recente. Eles foram melhorando, como as mulheres. Inspirado no seu Twitter: você se considera um Don Juan ou um Casanova? (Em agosto, Contardo escreveu que havia dois tipos de homem: ?Don Juán conta as mulheres que se apaixonam por ele. Casanova conta as mulheres que ele consegue fazer gozar?) Hum… Prefiro Casanova mil vezes como personagem. (O psicanalista faz uma longa pausa) Agora, do ponto de vista estético, prefiro Don Juan (risos).