Peça em um ato.
Abre o pano.
A peça se passa no magnífico apartamento de Donald Trump, em Manhattan.
Ao fundo, a vista do skyline da cidade.
Trump aguarda o resultado da eleição sentado em um sofá com vista para o East River.
Ao seu redor, duas manicures, um cabeleireiro e um maquiador.
Durante toda a peça, os cinco esteticistas vão acompanhar cada um de seus movimentos, fazendo pequenos retoques para manter seu tom de pele homogêneo e o cabelo alinhado.
Na sala de estar ao lado, a liderança mais próxima da campanha assiste ao Fox News num telão e faz eventuais ajustes no discurso que está pronto desde março.
– Olha aí! Ganhamos na Florida! – grita Trump – coloquem aí no meu discurso um agradecimento especial aos chicanos!
– Cubanos. Chicanos são os mexicanos. – um dos advogados explica ingenuamente.
– Tá me corrigindo, moleque? Ficou maluco?! Rua! You are fired! – Trump dá uma gargalhada e um tapa na bunda do maquiador travesti enquanto os seguranças escoltam o sujeito para fora da cena.
Trump continua.
– E? Já podemos ir para o estúdio fazer meu pronunciamento? – Trump pergunta, deixando transparecer certa ansiedade.
– Ainda não presidente. Precisamos esperar o resultado oficial.
Trump levanta irritado e afasta o cabeleireiro com um gesto ostensivo.
– Odeio esperar. Já contei para vocês sobre quando comprei meu diploma do high school?
Pelos olhares dos marqueteiros já contou, mas ninguém se atreve a contestar.
– Simplesmente não entendia por que ter de frequentar as aulas até completar os anos necessários para receber o diploma. Então sabem o que fiz? Hein? Hein?
– Comprou a escola! – respondem num coral.
– Dinheiro compra até amor sincero, meus amigos! – Trump conclui, justamente quando Melania entra em cena com um telefone celular de diamantes nas mãos.
– Amor…é o Obama de novo. Disse que não está conseguindo falar com você.
– Não está porque desliguei meu telefone…dispensa…dispensa.
Trump anda em círculos cada vez mais irritado.
– Nunca vi isso. Esperar por que, Deus do céu? Pagamos isso em novembro do ano passado!
– É o processo presidente…temos de esperar a contagem dos votos, até para não levantar suspeitas. Mas agora é só esperar. Já está tudo certo.
– E a Hillary?
– Hillary ligou ontem, presidente. Já está em Paris, como combinado, e já enviou seu discurso de derrota.
– Pelo menos isso. Ficou bom? No discurso a danada me agradece, como estava no contrato?
– Agradece sim, presidente. O vídeo ficou ótimo. Melhor do que a encomenda!
Um dos marqueteiros atende ao telefone.
– Presidente…é da Odebrecht. Estão ligando para
parabenizá-lo.
– Odebrecht?? Mas como é que essa gente já sabe que ganhamos se ainda não foi oficializado?
Os marqueteiros se entreolham incomodados. Um deles se atreve a responder:
– Os pagamentos…o senhor sabe…foram feitos naquela conta…
– Ah, sim, claro.
Trump pensa um segundo no que fazer.
– Bom…Melhor atender, né? Vai que… – Trump agarra o telefone enquanto sai de cena
– Fala, meu querido! Obrigado…obrigado..
Sua voz desaparece gradativamente.
Desce o pano.

Trump anda em círculos, cada vez mais irritado.
— Nunca vi isso. Esperar por que, Deus do céu? Pagamos isso em novembro do ano passado!