O hábito de consumir bebidas ricas em açúcar, como refrigerantes e sucos artificiais, aumenta em quase cinco vezes o risco de desenvolver câncer na cavidade oral, mostra um estudo recém-publicado no JAMA Otolaryngology – Head & Neck Surgery e conduzido por pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.
A incidência desses tumores vem crescendo entre pessoas sem fatores de risco tradicionais, como tabagismo, abuso de álcool e infecção pelo papilomavírus humano (HPV). Essas bebidas também estão associadas a doença periodontal e tumores gastrointestinais. Mas a relação com câncer de cavidade oral ainda é pouco explorada.
Para avaliar essa associação, os autores analisaram dados de mais de 160 mil voluntárias do Nurses’ Health Study, comparando também a incidência desses tumores em fumantes e não fumantes. Aquelas que ingeriam pelo menos uma dose desses produtos diariamente tiveram um risco 4,87 vezes maior de desenvolver câncer na cavidade oral do que quem os consumia menos de uma vez por mês, independentemente do hábito de fumar.
Uma explicação para esse aumento do risco seria a presença de ingredientes como xarope de milho rico em frutose (HFCS), presente em muitas dessas bebidas e que em excesso pode contribuir para inflamações crônicas, resistência à insulina e alterações na microbiota oral — fatores que podem facilitar a carcinogênese na boca.
No entanto, embora o aumento no risco relativo da doença (aquele que se refere à comparação entre os dois grupos) seja substancial, o crescimento absoluto dos casos (a probabilidade real de um evento ocorrer numa população específica) permanece modesto – de apenas três em cada 100 mil pessoas. “Por isso, embora um risco relativo elevado possa chamar a atenção e sugerir uma associação forte, é importante contextualizá-lo com o risco absoluto para não levar a interpretações errôneas”, pondera a oncologista Ludmila Koch, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Ainda assim, o resultado sugere que, ao avaliar hábitos alimentares dos pacientes, o consumo dessas bebidas deve ser um ponto de intervenção. “Na prática clínica, é vital que os profissionais de saúde não apenas informem sobre os riscos, mas também incentivem comportamentos saudáveis para que os pacientes compreendam a magnitude do risco em um contexto mais amplo”, diz Koch.
Isso inclui, segundo a oncologista, discutir a importância de uma dieta equilibrada, a redução do consumo de açúcares e a adoção de um estilo de vida saudável como formas de mitigar riscos, mesmo que o aumento absoluto de casos seja pequeno.
Fatores de risco conhecidos
Para reduzir a incidência dos tumores na cavidade oral, também é preciso monitorar hábitos como tabagismo e consumo de álcool, fatores já consolidados em relação a esse tipo de câncer. Outra medida importante seria promover políticas públicas que visem limitar a ingestão desses açúcares, como campanhas educativas e restrições à publicidade, principalmente aquela direcionada às crianças.
Vale lembrar que, embora o estudo tenha pontos fortes, como o tamanho da amostra e a coleta de dados dietéticos antes do diagnóstico do câncer, há algumas limitações, como a falta de generalização para homens e de diversidade racial e étnica. “São necessárias mais pesquisas para explorar essa associação em diferentes populações e contextos, levando em conta múltiplos fatores que possam influenciar esses riscos”, afirma a médica do Einstein.
Outra ressalva é que, embora o consumo elevado dessas bebidas esteja associado a vários tipos de câncer, ainda não está claro se essa associação é única em comparação a outras dietas ricas em açúcar adicionado.
Fonte: Agência Einstein