Os atendimentos por síndrome gripal mais do que dobraram na rede municipal de saúde de São Paulo entre novembro e dezembro, segundo a Prefeitura. O dado é reflexo da alta de casos de influenza e covid-19, cujos efeitos também são sentidos em unidades particulares de saúde da capital paulista. A corrida aos hospitais tem provocado longas filas de espera e chamado a atenção para o avanço das doenças.

Em novembro, a Prefeitura registrou 111.949 atendimentos de síndrome gripal nas unidades municipais. O número saltou para 264.975 em dezembro, alta de 136%. “A partir de 14 de dezembro, observamos um aumento considerável da demanda por atendimento por síndrome gripal”, disse Luiz Carlos Zamarco, secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Saúde, ao Estadão.

“Isso gerou um grande volume de reclamações da população, mas estamos tomando medidas para reduzir o tempo de espera e melhorar o atendimento”, afirmou. Entre as providências tomadas, Zamarco cita a instalação de tendas para realizar a triagem de pacientes e a abertura da agenda de todas as 469 unidades básicas de saúde (UBS) – que normalmente só atendem com hora marcada.

“Assim as pessoas podem procurar atendimento perto de casa e diminuir a pressão nas unidades de emergência da capital”, disse. “Vamos abrir as UBS no dia 31 até às 19 horas para ajudar o atendimento nas UPAs”.

Os pacientes da rede municipal que apresentam síndrome gripal, quadro respiratório importante e teste negativo para covid são encaminhados ao Hospital Vila Brasilândia,que tem 408 leitos. Atualmente, a taxa de ocupação é de 80%. “Se houver necessidade de mais leitos de internação, vamos encaminhar os doentes a uma ala já reservada no Hospital Municipal Guarapiranga”, afirmou.

“A tendência é de redução dos casos de gripe nas próximas semanas e de aumento dos casos de covid”, disse. “O serviço sentinela, que faz o sequenciamento das cepas, mostra que a Ômicron já é a variante que mais circula na cidade de São Paulo. Por enquanto, houve aumento no número de casos, mas não de internações”, disse Zamarco.

Na Assistência Médica Ambulatorial de Especialidades (Amae) Santa Cecília, região central da capital, a espera para atendimento no pronto-socorro estava em torno de uma hora e meia nesta quarta-feira, 29. No interior da unidade havia filas de espera para passar em consultas pré-agendadas, consultas emergenciais, realizar exame de covid-19, tomar vacinas contra gripe e covid.

O paciente Luiz Henrique de Freitas Fernandes, de 27 anos, morador de um albergue público, chegou às 11h30 na unidade com sintomas de covid.

“Estou há uma semana me sentindo muito mal. Estão demorando muito para me atender aqui. Já são duas horas da tarde e a previsão é de mais uma hora e meia de espera. Já fiz o teste de farmácia e deu positivo. É um descaso”, lamentou Fernandes.

Rede privada observa tendência semelhante

Tendência semelhante é observada nos hospitais privados. O número de atendimentos cresceu cinco vezes no Hospital Vila Nova Star, da Rede D’Or. Houve um salto de 50 atendimentos registrados na segunda semana de dezembro para 250 na semana do Natal.

“Nas últimas duas semanas, a maior parte dos quadros respiratórios foi provocada pelo vírus influenza”, diz a infectologista Maria Luísa Moura, do Hospital Vila Nova Star, da Rede D’Or.

“No entanto, nos últimos dias, estamos vendo também um aumento acelerado de casos de covid”, afirma. A maioria dos pacientes tem quadros leves de covid. “É difícil fazer a diferenciação dos casos porque os sintomas se confundem muito com os da gripe: a pessoa chega com coriza, com um pouco de febre, dor de garganta”, diz Maria Luísa.”Só mesmo com o teste é possível ter certeza”.

No Hospital Israelita Albert Einstein, também houve aumento do número de pacientes com síndrome gripal. No último mês, dos 6.362 casos de influenza identificados na instituição, 5999 eram de influenza tipo A. O hospital fez uma amostragem dos testes positivos para gripe para saber se o quadro havia sido provocado pela cepa H3N2.Foram sequenciadas amostras de vírus isolados de 25 pacientes. Desse total, 100% eram H3N2.

“Em relação à semana passada, a busca por atendimento parece ter dado umaestabilizada”, afirma Miguel Cendoroglo Neto, diretor-superintendente médico do Hospital Israelita Albert Einstein.

Do total de atendimentos, houve necessidade de internação em apenas 1,8% dos casos. “Apesar do grande volume de atendimento nos pronto-socorros, a necessidade de internação é baixa”, diz Cendoroglo Neto.

“Dos mais de 6 mil casos de síndrome respiratória que atendemos nas nossas unidades de pronto-atendimento, a positividade para influenza está em torno de 17%. Ou seja:grande parte dos casos de síndrome gripal é causada por outros vírus que também causam doença respiratória”, afirma.

O Einstein também tem feito uma triagem amostral de todos os pacientes internados com covid. “Neste momento, nenhum deles tem a variante Ômicron ou precisa de intubação”.

O Hospital Alemão Oswaldo Cruz observou um aumento significativo de pacientes com sintomas respiratórios que precisaram de internação. A positividade para influenza subiu de 8% na primeira semana de dezembro para 50% dos casos testados na última semana. Atualmente, a instituição tem atendido mais de 300 pacientes com sintomas respiratórios por dia. A taxa de internação de pacientes com influenza está em torno de 10%. Entre os internados, a maioria é de casos moderados, sem necessidade de terapia intensiva (UTI).

Dezenas de pacientes aguardavam atendimento no Hospital São Camilo, unidade da Pompeia, zona oeste da capital paulista, para diagnóstico de gripe influenza ou covid-19 nesta quarta-feira, 29. Recepção, salas de espera, triagem e a parte de fora do hospital estavam lotadas de pacientes aguardando a senha para atendimento na tarde desta quarta-feira, 29.

O hospital disse ter reforçado as equipes de pronto-socorro. “Em 29 de dezembro, a Unidade Pompeia registrou um pico de demanda, que tem oscilado bastante nos últimos dias. No entanto, a Instituição reforça que não há fila de espera para pacientes considerados graves, priorizando a qualidade assistencial e seguindo todos os protocolos de segurança para evitar a disseminação dos vírus da covid-19 e da influenza”, informou em nota.

A situação também era parecida no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Segundo João Prats, infectologista da unidade, apesar do fluxo intenso os pacientes já são separados de acordo com os sintomas.

“Se o paciente se queixar de mal estar respiratório ele já recebe uma nova máscara imediatamente na recepção do hospital. Em seguida será direcionado para uma sala de espera em outro andar. Depois da triagem, o paciente é atendido e se for necessário é encaminhado para um outro local para manter um fluxo específico para quem tem doença respiratória.”