A renovação em andamento do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), a grande vitrine do governo Lula desde o ano passado, passou por reformulações para impulsionar os lançamentos de empreendimentos, o que permitiu que as construtoras aumentassem suas vendas de imóveis. Isso resultou em um significativo crescimento nas receitas, inclusive com maior margem de lucro em 2023: a expectativa é a de que os resultados continuarão positivos ao longo de 2024 e 2025.

Desde meados de 2023, os subsídios concedidos às famílias de menor poder aquisitivo para a compra de imóveis aumentaram de R$ 47,5 mil para R$ 55 mil, enquanto que os juros para o financiamento das famílias de baixa renda foram reduzidos para 4,0% ou 4,25% ao ano, estimulando o ingresso de mais pessoas.

Já o teto de preços dos imóveis foi elevado de R$ 265 mil para até R$ 350 mil em todo o País, permitindo que mais moradias se enquadrassem no programa.

Segundo o CFO da Construtora Tenda, Luiz Mauricio Garcia, 2023 foi um ano de virada. “Entendemos, também, que o cenário externo e o novo Minha Casa Minha Vida têm contribuído para esses resultados positivos. O programa tem desempenhado um papel crucial ao impulsionar a construção de unidades habitacionais em todo o País”, diz.

No quarto trimestre de 2023, as cinco construtoras do segmento listadas na Bolsa (Cury, Direcional, MRV, Plano&Plano e Tenda), registraram uma receita líquida conjunta de R$ 4,7 bilhões, o que significa um aumento de 26% em relação ao mesmo período de 2022. O lucro líquido total das cinco empresas foi de R$ 313 milhões no quarto trimestre de 2023, enquanto que no ano anterior o resultado líquido foi próximo de zero.

“Com a taxa Selic em processo de queda e o orçamento do FGTS já está estabelecido, entendemos que as condições de mercado estarão ainda melhores este ano do que estiveram em 2023”, afirma o vice-presidente comercial da Cury, Leonardo Mesquita.

Esses números expressivos refletem a expansão do subsídio para imóveis populares no governo Lula, o que incrementou os lançamentos e as vendas no setor imobiliário. “Lançar um produto com a garantia de venda ou de financiamento para o comprador é algo que acelera a indústria imobiliária, que, até duas décadas atrás, tinha de se autofinanciar ou correr riscos ainda maiores ao captar recursos junto aos bancos”, explica o consultor especializado em mercado imobiliário, Roberto Viegas.

R$ 4,7 bilhões
Foi a receita líquida das cinco incorporadoras listadas na Bolsa (Cury, Direcional, MRV, Plano & Plano e Tenda) no quarto trimestre de 2023

A nova versão do programa aumentou o limite de renda para a família, facilitando o acesso ao financiamento habitacional (Crédito:Divulgação )

Bons ventos

Mas não foram apenas os números de lançamentos e de vendas que subiram. Também os preços dos imóveis avançaram, aumentando receitas e lucratividade do negócio. No quarto trimestre do ano passado, as cinco construtoras aumentaram os lançamentos em 20% em comparação com o ano anterior, totalizando R$ 6,8 bilhões.

As vendas líquidas também aumentaram 54%, atingindo R$ 6,3 bilhões “A ampliação das faixas 2 e 3, que representam uma parcela relevante dos nossos produtos disponíveis, gerou um grande impacto na demanda e no nosso resultado positivo”, enfatiza Rodrigo Luna, presidente do conselho administrativo da Plano&Plano.

R$ 313 milhões
foi o lucro líquido das cinco construtoras no quarto trimestre do ano passado

Na MRV, o valor dos apartamentos populares aumentou 18% em um ano, passando de R$ 208 mil para R$ 246 mil. Na Cury, houve um aumento de 15%, com o valor dos imóveis passando para R$ 283 mil. Já na Plano & Plano, o aumento foi de 4%, com os preços subindo para R$ 209 mil, enquanto que na Tenda o aumento foi de 9% (com o valor dos imóveis subindo para R$ 206 mil).

É importante destacar que o aumento dos preços não afetou o ritmo das vendas. Isso foi possível devido às novas regras do MCMV, que ampliaram o poder de compra da população, de acordo com os analistas. Mesmo com o aumento dos preços, os novos subsídios do programa ainda tornam a compra viável para os consumidores. “Foi realmente muito bom para os resultados”, afirma Bruno Mendonça, analista do Bradesco.

Ministro das Cidades Jader Filho faz entrega de imóvel em Bertioga, litoral de São Paulo, juntamente com o prefeito da cidade, Caio Matheus (Crédito:Divulgação )

Os balanços das construtoras devem continuar positivos ao longo de 2024 e 2025, devido ao reconhecimento contábil das vendas já realizadas com preços maiores. Isso ocorre porque as empresas de construção contabilizam a receita das vendas proporcionalmente ao progresso das obras.

As vendas realizadas no ano passado só serão incluídas nos balanços deste ano e do próximo, quando os imóveis vendidos na planta estiverem prontos. “Os resultados positivos não são imediatos, mas terão um impacto expressivo no futuro. Isso trará benefícios significativos para a receita e para as margens de lucro das construtoras que souberam aproveitar essa oportunidade favorável”, avalia Mendonça.